Capítulo 3


      Acordei em minha cama, devo ter vindo até aqui durante a madrugada, embora não me lembre disso. O dia já havia raiado, e meu corpo todo doía.
        Meus músculos ardiam como se eu tivesse lutado contra um gigante e perdido.
        Senti algo molhado em meu nariz e passei meu dedo para ver o que era. Sangue.
        Permaneci deitada, pensando em descansar o máximo possível. Agradeci aos deuses por não ter aula. Eu descansaria tranquilamente e não me preocuparia com nada.
         Entretanto, minha paz foi interrompida por alguém batendo na porta de casa. Suspirei e me coloquei de pé, sentindo o corpo reclamar em dor.
        A pessoa continuou batendo. Ninguém nunca me visitaria em um dia para descanso, então imaginei que fosse Edward à minha porta.
        Julgando pelo modo que os deixei na noite passada, seria aceitável que ele passasse em minha casa para saber como estou.
        Passei do lado de um suporte com algumas adagas, mas julguei ser já situação normal, afinal não teria risco algum eu ir até minha porta, então não peguei nada para me defender.
        Abri a porta com cuidado sem olhar para quem estava ali e apenas disse:
         — O que foi, Edward?
        Ele não respondeu, então ergui minha visão e me assustei. Não era Edward que estava ali, mas sim um homem alto vestido de preto com o rosto escondido por um capuz.
        Olhei de relance para trás, o suporte estava muito longe. Não era possível que no primeiro dia em que me descuidei, alguém estranho apareceria desse jeito.
        — Quem é você, e o que quer? — Perguntei recuando alguns passos de modo lento, assim o homem não perceberia meus movimentos.
        Quando ele não respondeu, eu tentei correr na direção do suporte, mas fui agarrada pelos cabelos e jogada no chão. A dor se espalhou pelo meu corpo que já estava sensível.
         Me levantei rapidamente e corri na direção da cozinha, lá eu teria alguma coisa com que me defender. Entretanto o homem parecia ser mais rápido e me puxou pelo cabelo de novo.
        Girei meu tórax e dei uma cotovelada em seu rosto que o derrubou. Avancei na direção da cozinha e vi uma faca na pia.
        Quando cheguei nela, o homem agarrou minha cabeça e a bateu contra a pia. Fiquei zonza e continuei tentando pegar a faca, mas ele repetiu a ação.
         Senti o gosto de sangue em minha boca, enquanto meu nariz emitia dores agudas. Tentei dar outra cotovelada nele, mas estava fraca.
         Corri com os olhos em torno da pia e percebi um vaso de flores, eu não sabia o motivo de ter colocado um vaso na pia, mas agradeci ao meu eu do passado por isso.
        Agarrei o vaso e o bati na cabeça do homem. Ao mesmo tempo senti seu aperto afrouxar e girei meu corpo para atacá-lo. Mas ele segurou minha mão e desferiu uma cabeçada em mim.
         Senti meu corpo amolecer quando fui jogada contra minha mesa de vidro. O homem ficou por cima de mim e segurou meu pescoço com força, cortando minha respiração.
        Minha visão começava a piscar e escurecer, e sabia que estava desmaiando, eu precisava reagir de alguma forma.
        Tateei ao redor e segurei um pedaço de vidro grande o suficiente para fazer alguma coisa. Segurei com força, até sentir minha mão se cortando.
         Com o resto das minhas forças, eu enfiei o pedaço do vidro no pescoço do homem, tirei e golpeei de novo. O sangue dele jorrou em meu rosto, mas continuei perfurando ele em todas as regiões possíveis.
        Depois do quarto golpe, o homem enfraqueceu e caiu do meu lado. Puxei o ar com desespero, tentando recuperar meu fôlego.
         Tentei me levantar, mas senti algo preso em minha perna. Ergui a cabeça um pouco e vi um pedaço de vidro grande cravado na região da minha coxa.
        Muito sangue escorria pelo ferimento, enquanto eu tentava levantar, porém, nada estava dando certo.
        Como uma última tentativa, eu tentei erguer minha perna para retirar o vidro dela, mas não se movia e piorava a situação que já estava ruim.
         Comecei a chorar de dor, pedindo aos deuses que mandassem alguém para me tirar daqui. E então escutei passos na sala.
        Pensando ser mais um inimigo, eu peguei outro caco de vidro e o apontei para a entrada da cozinha, quando vi Joel aparecer. Nunca me senti tão aliviada.
        — Rose! — Ele correu até mim, com uma expressão preocupada.
        — Oi Joe... — minha voz estava embargada.
         Joel me levantou com um movimento só, que fez o vidro preso em minha perna sair rapidamente. Doeu, e doeu muito, quase gritei mas consegui me conter.
       — Droga Rose! Se esqueceu de estar sempre armada com alguma coisa? — Perguntou ele.
       — Como é que eu ia imaginar que seria atacada?!
       — Você tem sorte de eu ter chegado ontem à noite.
         E ele estava certo.
         Ele me levou para sua casa e me colocou no sofá, onde tirou minha calça na intenção de ter uma visão melhor do ferimento. Quase implorei para ele ser rápido e fazer aquela dor insuportável parar, mas apenas disse:
        — Está muito feio?
        — Um pouco..., mas não se preocupe, vou dar um jeito nisso.
        Maldito jeito.
        Joel fez suturas em minha perna, e a única coisa que me ajudava a não surtar de dor, foi uma toalha que ele me deu para morder. Senti a agulha entrar e sair da minha pele vinte vezes. Dez em cima e dez embaixo.
        Em seguida, ele me deu um coquetel de ervas que me ajudariam no processo de cicatrização. Além disso, Joel notou que meu pulso estava deslocado, e colocou de volta no lugar, em meio aos diversos xingamentos que referi a ele. Depois, acabei dormindo.


Acordei depois de algum tempo. Eu ainda estava no sofá, observei ao redor e o vi todo sujo de sangue, me perguntei como Joel não havia se preocupado com a sujeira.
       Ao meu lado estava um balde com água já suja de vermelho, havia alguns panos dentro, provavelmente que Joel usara para limpar meus ferimentos, que não eram poucos por conta de eu ter sido jogada em cima de uma mesa de vidro.
        Embora eu não tenha visto ele em lugar algum, escutei barulho no outro cômodo. Queria levantar, mas minha perna estava dormente, e o motivo era bem previsível, perdi muito sangue.
        Meu corpo todo latejava, talvez por todas as agressões que levei. Me peguei pensando em quem seria aquele homem que me atacou, de onde ele havia vindo e o que queria comigo?
         Alguém bateu na porta e Joel apareceu para atender. Vi ele segurando uma faca escondida atrás das costas. Meu coração acelerou, e se fosse outro ataque?
         Ele abriu mais a porta e deu passagem para Amanda, Edward e Marcus entrarem. Os três se aproximaram de mim rapidamente e me avaliaram com os olhos.
        — Você está horrível — falou Marcus.
        — Estou mesmo — admiti e fui sincera.
        — Não seja insensível Marcus! — Reclamou Amanda.
        — Está tudo bem Amanda, ele está certo no final das contas — interrompi antes que o Infeor respondesse
        — O que aconteceu? — Perguntou Edward — passei em sua casa e vi soldados por todos os lados.
       — Fui atacada, o motivo eu não sei.
       — Algum conhecido? — Marcus cerrou os punhos.
       — Não, nunca havia visto aquele homem na minha vida.
       — Mas eu já — interrompeu Joel — o modo que ele se vestia é comum para mim...
       O observei. Joel sabia alguma coisa que nenhum de nós sabemos, o que é plausível, já que ele faz parte da guarda real.
       — Era um Pesadelo — ele cruzou os braços.
       — O que ele queria comigo? E porque logo eu?
       — É o que todos nós queremos saber — respondeu ele — não se preocupem, eu irei descobrir, e não quero que nenhum de vocês se intrometam.
        Todos nós assentimos, embora soubéssemos que não iríamos ficar parados, mas agiríamos depois que eu me recuperasse, afinal não tenho planos para me mover até que meu corpo esteja completamente curado.
         Joel nos deixou sozinhos e saiu da casa, avisando que iria até o rei para relatar o que aconteceu mais cedo. Meus amigos esperaram ele fechar a porta para me encararem esperando alguma coisa.
        — O que foi? — Perguntei.
        — Qual é o plano? — Marcus me olhou com curiosidade.
        — Não tem plano nenhum, eu estou muito machucada para ter algum plano.
        — Rose, precisamos fazer alguma coisa a respeito do que houve com você — Edward entrou na conversa e Amanda concordou com a cabeça.
        — Eu só quero descansar agora, a festa de aniversário do rei está chegando e eu não estou nem um pouquinho afim de aparecer com algum hematoma.
         — Então... você vai? — Perguntou Amanda.
         — É claro que vou — percorri com meus olhos para cada expressão deles — ano passado eu não fui.
         Marcus suspirou e sentou em uma cadeira próxima. A preocupação estava estampada nos rostos dos meus amigos.
        — Não se preocupem... eu estou bem — falei me ajeitando suavemente no sofá, qualquer movimento maior que isso me lançaria uma dor insuportável — Joel vai descobrir o que queriam comigo.
        — E quando isso acontecerá? Joel é da guarda real, Rose, ele tem o próprio trabalho para exercer, lembra?
        — Eu sei, mas ele não deixará isso de lado — eu acho.

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