Capítulo 1 - Fuga á Francesa

  Hoje seria o dia mais importante do país, eles irão escolher sete jovens inteligentes e capacitados para ajuda-los nos novos planos do governo para o país. Eu moro em uma ilha cujo nome é Dái Sanji, que significa Gavião Negro. Metade do mundo foi destruído por um tsunami causado pelo derretimento dos pólos o que fez com que milhares de pessoas morressem ou se mudasse para países não tão afetados pelos desastres, introduzindo milhares de novas culturas no mundo. Já nós somos sobreviventes que vieram do Brasil até Dái Sanji, à 67 anos atrás, alguns dos nossos ancestrais infelizmente morreram por causa de doenças ou naufrágios, os que sobreviveram criaram seu próprio povo, com ajuda de Franceses e dos Chineses. Foi assim eu tudo começou.


                                                                                           
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  Logo quando eu acordo ouço minha vizinha brigando com o marido dela. Eles sempre estão brigando por tudo, qualquer coisa vira discução, o mais engraçado é ouvir, não consigo parar de rir enquanto ouço ela gritando com aquele forte sotaque sueco. Hoje é sábado e mesmo não tendo nada para fazer acordo cedo como costume. Assim que me afasto da janela meu celular começa a tocar.


- Não cansa de olhar a vida dos outros?


- Seus pais não cansam de discutir?


- Ha ha. Bom dia também! Eu acho que você deveria pensar melhor em como fala com o cara que conseguiu o cartão de entrada da arena de paintball.


- Só acredito vendo!


- Ok... Apareça na janela. - Eu me aproximo e vejo Victor com um cartão de identificação da arena Paintball Folle. Eu começo a sorrir de felicidade. - Acredita em mim agora?


- Ok, eu já estou indo.


  Victor é meu vizinho e meu melhor amigo, já faz dois anos desde que ele se mudou para cá. Nós nos conhecemos na escola, e a partir das brincadeiras idiotas e as conversas sem sentido criamos uma amizade indestutível.


  Coloco uma calça jeans e uma blusa simples, pego minha mochila e desço as escadas.


  Minha mãe está na cozinha, ela está muito animada com o pronunciamento do Líder hoje, acha que serei escolhida, não sei o que eu quero, talvez queira ir para a sede, ou não, não sei o que faria se fosse selecionada.


- Elo, venha me ajudar aqui.- Minha mãe está na cozinha, preparando tudo para quando voltarmos do discurso, meu irmão está no quarto lendo. - Eloise, você é a garota mais inteligente que eu conheço, não tem como eles não te escolherem, você será a primeira da lista, eu tenho certeza. Esteja limpa quando chegarmos lá, mantenha um firme sorriso no rosto e não se esqueça, seja adorável.


- Mãe, não vou ser escolhida, milhares de pessoas tem a chance de serem selecionadas em meu lugar. - Mas minha mãe mantinha a esperança. - Vou ir até o campo de paintball com o Victor.


- Campo de paitball? Onde é esse campo de paintball?


- Na arena de esportes, perto do Centro de Estudos.


- Tudo bem, mas chegue antes do meio dia.


- Ok mãe.


  Eu lhe dou um beijo e saio correndo pela porta até chegar na casa da senhora Stilenson. E lá está ela, com um machado, cortando lenha no jardim. Quanta graciosidade!


- Bom dia Sra. Stilenson. - Digo enquanto tento não rir do rasgo logo atrás de sua saia.


  Ela olha para mim e dá um leve sorriso, depois se vira para a janela do quarto de Victor e grita:


- Hej pojke, komma ner denna smutsiga rum och komma ut!


Assim que ela termina de gritar Victor aparece na jannela e diz:


- Inte alla i grannskapet är fortfarande vaken, sluta skrika!


A Sra. Stilenson solta o machado e grita ainda mais alto:


- Pojke ner nu eller jag ska ge upp det och slita öronen!


- Já estou descendo mãe. - Diz Victor constrangido.


- Bom dia Eloise, como vai a sua mãe? - Nem parece que é a mesma pessoa, a Sra. Stilenson dá um sorriso enorme enquato fala.


- Ela está muito bem, e a senhora, como vai?


- Ótima! E você, sempre tão linda...


- Muito obrigado Sra. Stilenson.


- Ah por favor, me chame de Elga.


Victor aparece na porta da frente.


- Vamos Elo!


- Estou indo. Até mais tarde Sra. Stilenson... quer dizer, Elga.


- Até mais tarde querida!


Assim que saimos da frente da casa eu começo a rir descontroladamente.


- O que? - Victor me pergunta incomodado.


- A sua mãe é um amor. O que ela te disse?


- Ela disse: "Garoto, saia desse quarto imundo e venha para fora!"'


- Só isso?


- Ela também falou: "Garoto, se você não sair desse quarto agora ou eu vou subir e arrancar suas orelhas!"


- Ha ha. Sua mãe é demais! Então... como conseguiu a chave?


- Chave? Isso não é uma chave. É um cartão de identificação eletronica.


- Ok Sr. Stilenson, como conseguiu esse cartão mágico aí?


Victor olha para mim com um sorriso astuto e malicioso.


- David Blake.


- Você roubou o cartão dele? Cara ele é o garoto mais rico da cidade, e o mais insuportável também, mas por que fez isso?


- Eu não roubei nada! É o seguinte: eu conheço um cara que conhece um cara que é amigo de um cara que anda com o David. Esse cara deve um favor pro meu primo.


- Que primo? O Crister?


- Não, o Solveig. Continuando... eu falei com o Solveig se ele poderia conseguir uma coisa com o favor que o amigo do David deve pra ele, já que ele concordou que tinha que me pagar pelo que eu consegui pra ele ano passado.


- O que você conseguiu pra ele?


- Ah... Olha minha família é meio estranha, quer mesmo que eu te conte?


- Esquece então, conta a história.


- O Solveig disse que conseguiria o cartão pra mim se eu prometesse que não iria acabar sendo visto, preso ou, se acontecesse alguma coisa, eu assumisse a culpa pra não sobrar pra ele.


  Nós caminhamos por uns quinze minutos até encontramos um portão enorme cheio de manchas de tinta.


- Ok, é aqui. Chegamos.


  Nós entramos sem sermos percebidos, até um guarda nos parar na entrada do campo.


- Ei vocês! - Diz o guarda enquanto estende a mão com um aparelho de identificação biométrica. - Nós retiramos os leitores à lazer, não vão precisar mais dos cartões para entrar, agora vamos usar a identificação biométrica, não precisam se registrar novamente, recolhemos os dados da inscrição manual incluindo suas digitais, é só colocar o polegar no visor e terão acesso aos equipamentos e o campo.


  Nós nos olhamos por alguns segundos e o guarda percebe que o nosso comportamento desconfiado esconde algo, Victor segura a minha mão e olha para mim.


  O guarda pôe a mão lentamente na pistola de eletrochoque enquanto Victor fecha os olhos e dá um chute na perna do guarda que cai no chão. Eu olho para trás e vejo quatro guardas atrás de nós enquanto corremos na direção do muro.


- Rápido Elo, vão nos alcançar! - Victor diz enquanto ri descontroladamente.


  Nós subimos na grade e pulamos para o outro lado, assim que atravessamos a rua entramos no jardim da casa da Dona Amélia, uma senhora que vende flores e aviamentos.


- O que foi aquilo? - Pergunto ofegante.


- Aquilo foi incrível. - Victor olha para mim com o maior sorriso possível enquanto nós, que estamos deitados na grama atrás das flores da Dn. Amélia, gargalhamos como crianças.


- Foi muito divertido, será que vão vir atrás da gente?


- Relaxe Elo, vamos devolver o catão ao Solveig e nunca mais vamos voltar ali.


  Ficamos ali deitados na grama por um tempo contando os arranhões que tinhamos conseguido em nossa bela "Fuga à Francesa"  tentando descobrir quem iria ficar mais tempo usando roupa de manga comprida.


- Ok. Tenho que ir para casa Victor.


- Qual delas? - Ele me pergunta com uma das sobrancelhas arqueadas.


- A minha casa.


- Vamos lá Elo, você achou que eu não ia descobrir?


- Por favor, não conte pra ninguém.


- Tudo bem.


Nós nos levantamos e saímos do jardim.


- Vejo você na pronunciação?


- Estarei lá Elo.


- Tchau Victor.


Nós sorrimos e vamos, cada um para seu próprio caminho.

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