Capítulo 13 - Morte Prematura

  Eu fiquei pensando sobre o jantar, mais em como Jeff tinha se comportado durante ele. Será que aquilo tinha a ver com o fazendeiro e o guarda que nós tinhamos visto?


- Eu não consigo!


  Já são três da manhã e eu ainda não tinha dormido. Eu me levanto, vou para o corredor e começo a bater na porta do quarto de Jeff. Acabo esperando uns dois minutos até ele levantar e abrir a porta.


- O que tá fazendo aqui?


- Quieto. - Eu passo por debaixo do seu braço esquerdo que segurava a porta e entro no quarto. - Fecha.


  Jeff empurra levemente a porta e eu me sento na cama.


- Posso saber o motivo dessa visita incoveniente e... suspeita?


- Não consigo dormir.


- Você tem o que? Seis anos?


- Eu não consigo parar de pensar naquele homem no jardim.


  Ele descruza os braços e senta na minha frente.


- Nem eu. Mas então, o que tá pensando em fazer sobre?


- Eu não consigo nem ter certeza do que está acontecendo, como eu vou pensar em investigar isso agora?


- Que saco. - Jeff joga o corpo para trás e fica deitado, de braços abertos, olhando para o teto. - No que você tá pensando agora?


- Eu não sei. - Eu também me jogo para trás, as mãos fechadas sobre as pernas, respiração pesada, dúvida... - Vou acabar ficando maluca.


  Jeff não quer falar, mas eu percebo por seus olhos que ele quer me perguntar o por que.


- As vezes eu consigo resolver tudo em uns cinco minutos mas agora não to encontrando forças nem pra me suportar.


Ele se senta na cama, leva a mão pelo rosto e me olha:


- Você quer ajuda?


  Assinto com a cabeça e dou a minha mão para que ele me puxe e me levante.


- Minha mente está vazia... e cheia ao mesmo tempo, eu não consigo assimilar o que eu penso porque é muita coisa de uma só vez, mas ao mesmo tempo eu não enxergo nada disso. É como o universo, é confuso, estranho e...


- Incompreensível - Jeff continua - Mas é bonito. Existem pessoas que se sentem atraídas por essa graça do universo, como eu. Você não é tão complexa como ele, é muito mais, e eu estou disposto a encarar isso de cara.


  Ele põe o braço em volta dos meus ombros e joga o meu cabelo para frente.


- Eu posso ser seu Stephen Hawking, o que acha?


- Eu vou aceitar a proposta. - Sorrio de cabeça baixa e ele me empurra com uma das mãos para que eu caia de novo na cama.


+ + +


  Ficamos lá conversando sobre nada por uns quinze minutos. Tudo que é bom dura pouco.


- O que foi isso? - Pergunto assustada e já me levanto da cama.


  Jeff se levanta indo em direção à janela e volta, agora para o corredor. Eu tento ver o que está acontecendo mas ele insiste que eu fique atrás dele colocando seu braço na minha frente.


- Vá para o seu quarto.


- Mas por quê?


- Elo, vá! Deite e finja que está dormindo, agora!


  Ele abre a porta e eu vou para o quarto, alguns segundos depois guardas equipados quase como que soldados entram e vasculham o meu quarto, eles se aproximam da janela e depois vão para o corredor e fecham a porta. Eu continuo deitada esperando que mais alguma coisa aconteça, ou não, assim eu poderia me levantar.


- Ali! Rápido.


  Assim que ele fala os outros guardas se retiram do quarto e fecham a porta. Ouço um barulho vindo da janela, eu me levanto para olhar, tem cinco guardas correndo atrás de um garoto ruivo, mais ou menos da minha idade, eles o alcançam e o derrubam. Ele está gritando, estão batendo nele. Eu vou para o corredor e acabo voltando já que ainda tem guardas lá. Estão espancando ele, eu começo a ouvir os urros, um dos guardas começa a bater em sua cabeça repetidas vezes com soco inglês. Mais urros, gritos, e agora o som do metal cortando a carne do rosto dele, pele e sangue caem no chão, ele ainda está vivo e os guardas não param. Estou trêmula, tento levar as mãos até o rosto, me afastar da janela, mas não consigo. Ele está, está sufocando, acabou por se afogar no próprio sangue. Os gritos param, estou chorando.


- Ele morreu.


  Os guardas se levantam e o arrastam pelas pernas em direção ao muro. Eu dou alguns passos para trás, tento me acalmar mas não consigo, os gritos dele continuam soando na minha cabeça. Eu começo a gritar, estou desesperada.


- Não. Não. Não. Não! Não! Não! Aaaaah!


  Jeff escuta meus gritos e corre para o meu quarto, eu estava tendo um ataque de pânico.


- Elo, Elo por favor me escute.


- Mataram ele! Mataram ele na minha frente, afogado no próprio sangue! - Eu estou gritando descontroladamente, e ainda tem guardas no corredor.


  Jeff me abraça e pressiona levemente minha boca contra o seu ombro para abafar os meus gritos, eu ainda estou chorando, agora com as unhas fincadas nos braços de Jeff que me encosta na parede e, com o maior cuidado possível, se abaixa até que nós nos sentamos no chão sem que eu afaste meu rosto do seu ombro. Ele acaricia meu cabelo até que eu me acalme e pare de chorar.


- Ele está morto Jeff. - Digo ainda soluçando.


- Elo - Ele seca minhas lágrimas - Vai ficar tudo bem, eu prometo.


  Ele inclina o corpo sobre mim, como se estivesse tentando me guardar dentro dele, e respira o mais calmamente possível, é confortável, da pra sentir seu coração bater em meu braço, é viciante. Eu durmo.

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