Capítulo 16 - Forca de Ferro

- Eloise, suba na árvore.


  Já faz três dias que nós estamos fazendo o mesmo exercício: Sobe na árvore, espera, desce da árvore. E eu ainda não consegui entender a lógica disso.


- Chad, qual é o objetivo disso?


- Eloise... suba na árvore.


  Eu subo na árvore mais uma vez, como em todos os outros dias. Os meninos começam a subir, Jeff sempre vai um pouco mais alto que Joseph, e todos os dias eu tenho que ficar dois galhos acima do anterior. Estou quase no topo da árvore, a mais de quatro metros de altura.


- Vocês conseguem tá, só... Tentem chegar logo pra acabarmos com isso.


- Você não tem ideia de como eu tô odiando subir ness droga de árvore todo dia. - Jeff está muito chateado, além de não conseguir se equilibrar bem ele acabou quebrando os óculos ontem e Jenna se recusa à nos deixar ir para a cidade encontrar um novo, ou tentar arranjar um para ele, o pior é que ele não consegue enxergar quase nada, mesmo com uma única lente quebrada.


- Vamos Joseph, por favor.


- Eu não aguento, você... Você não entende eu... Eu não consigo subir. Meus braços, eles...


- Não, eu entendo, me desculpe, não tem problema tá, só... Ah, continua.


  E mais uma vez Chad vai embora e nós não terminamos o exercício. Isso significa que amanhã teremos que fazer tudo de novo e esse é mais um dia como os outros que nós tivemos, a única diferença é que deixou de ser divertido na terceira vez, quando "me salvar" se tornou exaustivo e precisar "ser salva" um saco.


+ + +


- E lá vamos nós, de novo.


- O treinador nem está aqui.


- Vocês tão de brincadeira né? Vamos ter que subir de novo? Eu, eu não tô conseguindo nem andar direito, ou ao menos ver alguma coisa...


- Eu vou subir logo pra acabarmos com isso.


- Caine... Vamos lá, só... Dá um tempo.


- Por que você não começa a subir Joseph? Eu não quero passar três meses sentada em uma árvore.


- Caine. Eloise! - Ele segura o meu braço direito e me puxa. - É o seu irmão, não é?


- Joseph eu... Eu não vou sair daqui se não conseguir fazer isso.


- Você tem que se lembrar que se não completarmos o exercício nenhum de nós vai sair. Então, relaxa tá, espera o treinador chegar e nós conversamos com ele sabe, falamos que não tá dando certo.


- Então vocês ficam aqui e esperam, eu vou esperar lá em cima.


  Eu começo a subir enquanto Joseph e Jeff se sentam no canto da parede próximo à mesa.


- Cara, ela é incontrolável.


- Percebe-se. - Diz Jeff desatento, estava muito concentrado em seus óculos para conversar naquele momento.


- Eu já conhecia ela. Sabe... Antes.


  Por um segundo Jeff para de mexer em suas lentes e levanta o olhar cuidadosamente para Joseph que me observava subir até o topo da maldita árvore.


- Quando?


- Já faz muito tempo, ela não se lembra mais.


- Como você sabe?


- Ah... Se ela se lembrasse não permitiria que eu sequer me aproximasse dela.


  Eles estavam quietos, Jeff já não estava mais concentrado em conseguir ver alguma coisa nítida de novo, ele não parava de pensar "O que o Joseph poderia ter feito á Elo que faria ela se afastar dele?"
Enquanto isso Joseph olhava para cima com o mesmo sorriso que ele tinha quando me alcançou no corredor no primeiro dia, aquele sorriso envergonhado, pensativo.


  Já tinha cinco minutos que eu estava esperando o treinador, o mais estranho era que a porta gigante do jardim estava aberta, mas não haviam guardas por perto, na verdade eu não me lembro de ter visto ninguém a manhã toda. Começo a ficar preocupada, hoje tinham mais correntes na árvore, duas para cada grande galho. Eu estava suando, começei a tremer, "Por que a porta estava aberta hoje? Qual é a utilidade de tantas correntes? Onde estava o treinador esse tempo todo?"


- Gente eu...


  Quando eu estiquei a cabeça para frente eu cometi um dos maiores erros da minha vida. Meu pescoço ficou totalmente enroscado em uma corrente que estava presa horizontalmente no galho à minha frente. Eu estava pendurada pelo pescoço em uma forca de ferro à quatro metros de altura do chão.


- ELO! - Joseph gritava meu nome enquanto Jeff corria para o corredor em busca de ajuda.


- Elo não! Jeffrey temos que fazer alguma coisa agora!


  A porta tinha se fechado, sozinha, em segundos.


  Jeff e Joseph começam a subir na árvore o mais rápido que conseguem. Joseph, que muitas vezes mal consegue se por de pé depois de descer estava se pendurando de galho em galho na minha direção. Eu já não estava mais conseguindo abrir os olhos, estava desesperada "Eu vou morrer." dizia a mim mesma. Jeff conseguiu chegar no galho onde estava a corrente e, não sei como, partiu ele no meio. Acho que o desespero é a coisa mais poderosa que existe. Nesse momento eu começo a cair, já que agora estava pendurada por apenas um lado, Joseph me segura e me põe de pé contra o tronco e Jeff estava no galho acima da minha cabeça o ajudando a desenrolar a corrente do meu pescoço.


  Eu estava inconsciente, meu pescoço, totalmente marcado. Eu acordei pra morrer hoje, mas não o fiz já que sou incontrolável, segundo Joseph.


  Demorei muito tempo pra recuperar os sentidos mas me lembro de acordar algumas horas depois. Não conseguia ver nada, mas eu sentia uma mão gelada tocando meu pescoço, tinha uma voz única chamando meu nome.


- Elo...

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