Capítulo 7 - Camisa de Pinho

- Abra a porta.


- Como posso ajuda-lo?


- Convocação. Você foi chamada para fazer parte do treinamento de elite devido à sua classificação como décima colocada nos testes de aptidão mental realizados no ultimo ano.


- E o que eu faço agora?


- Sexta-feira, 11 de dezembro, nove da manhã na praça dos imigrantes. Um carro marrom estará à sua espera para leva-la ao aeroporto ao lado do Mercado Aborígene. Esteja lá.


- Eu vou.


O homem sai em direção à uma motocicleta e vai embora.


+ + +


Infelizmente já é sexta-feira, eu estava no sofá com Evorah assistindo televisão quando percebo que já estava meio tarde, subo as escadas e começo à arrumar as malas. Roupas, muitas roupas, principalmente calças e blusas de botão. Livros, desenhos, lápis, caderno, antibióticos, carregador, perfume e escova de dentes. Em uma bolsa de mão eu guardo uma navalha e um canivete que o meu pai usava quando ia pescar enrolados em lenços, jogo alguns batons e lápis de olho em cima.


  Antes de sair eu decido ver o Victor, ele estava em casa, eu sabia disso porque a janela do quarto estava aberta, não para entrar luz ou arejar o quarto, para eu entrar. Eu desço a janela do meu quarto e subo a dele. Ele estava deitado mexendo no celular, mas eu não consegui, não pude entrar e falar com ele, fiquei tão assustada que caí e bati a cabeça. Felizmente ainda estava acordada, me levantei e corri para casa.


- Por que está vestida desse jeito?


- Eles... eu preciso ir.


- Eu... eu achei que...- Minha mãe começa a chorar - Foi tudo tão rápido. Eu não achei que iria acontecer.


- Eu sinto muito. - Eu a abraço e ela começa a se acalmar. - Mas é necessário. - E realmente era, meu irmão corria perigo e eu era uma das únicas pessoas que ele podia confiar naquele momento. - Vou pro quarto.


Eu fecho a porta e paro em frente ao espelho, "O que eu vou fazer quando chegar lá? Como eu vou ajudar o Nicholas?" Eu me encosto na parede e desliso. Parece que nada faz sentido, mas ao mesmo tempo tudo se encaixa.


- Você devia tomar mais cuidado.


  Victor estava na janela, estava sorrindo, pena que não era de verdade.


- Eu fiquei assustada, a ideia de perder você, a Jess, minha mãe, tudo. Eu...


- Tudo bem. - Ele se senta na minha frente e segura minha mão. - Não é culpa sua.


  Nesse momento eu coloco minhas mãos sobre os olhos e desabo.


- Eu não quero fazer isso Victor! Eu quero ficar aqui com você. - Victor também não contém as lágrimas e começa a chorar. - Eu vou perder a melhor parte da minha vida, tudo vai acabar e você vai se esquecer de mim.


- O que? Elo eu... escuta eu nunca vou esquecer de você tá bom. Você é minha melhor amiga, sabe, eu nunca abria a janela do meu quarto até conhecer você. Eu aprendi a andar de bicicleta pra poder passar mais tempo contigo, nós quase fomos presos juntos! Você me fez a pessoa mais feliz do mundo, e isso é pra sempre.


  Eu me acalmo e paro de chorar por um tempo, eu olho para ele, seus olhos vermelhos e o cabelo preto bagunçado, ele tem uma cicatriz na mão de quando quase fomos atropelados, a mão que segura a minha agora. Eu o olho nos olhos, ele está olhando pra mim.


- Eu te amo Elo e nunca vou me esquecer de você.


- Eu também te amo Victor.


  Nós nos abraçamos, mais forte do que qualquer outra vez, eu sinto suas mãos frias em minhas costas, meu rosto vermelho e quente tocava o algodão áspero de sua camisa, eu conseguia sentir o cheiro do pinho na pele dele, sua respiração forte, o coração acelerado. Minhas unhas quase entravam em sua pele. Era hora de ir.

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