Capítulo 4 - Campo de Batalha do Salto Alto

  Está quente. Eu não estou na minha cama. A Jesse está em cima da mesa, mexendo no celular, quando eu percebo que estou deitada no chão e tento me levantar tropeço em minha própria perna e caio de cara.


- Meu Deus Elo! Você tá bem? - Jesse grita enquanto dá um pulo de cima da mesa pra me levantar.


  Eu tento falar alguma coisa, perguntar o que está acontecendo, mas a única coisa que sai da minha boca é:


- Que?


- Eu estava esperando você acordar. Já são seis da manhã.


- Ahn? - Minha voz sai quase que como um gemido, nem eu estou conseguindo entender o que estou dizendo. A claridade me incomoda mesmo estando um breu dentro de casa, afinal: SÃO SEIS DA MANHÃ.


  Quando me levanto meus ossos estalam como madeira velha, minha mãe não está em casa, provavelmente achou que eu só iria levantar ás sete e, mesmo me prometendo que viria ás quatro, nem se deu o trabalho de vir mais ou menos esse horário, deve ter pensado que eu nem ia perceber. E mesmo estando extremamente cansada eu consegui tirar todas essas conclusões em menos de vinte segundos. Mais uma vez eu olho para o lado e vejo a figura da minha consciência me aplaudindo entusiasmada com uma das sombrancelhas levantadas.


- À quanto tempo você está ai Jess?


- Ahm, à mais ou menos cinco horas. Mas não se preocupe, eu peguei seu carregador e comi da sua comida então... estamos quites.


- O que aconteceu comigo?


- Você se meteu em uma briga.


-Como foi isso?


- Você apagou mesmo, hein?


- Fala Jess.


- Uma garota procurou briga com você. Até aí você não fez nada, só que, ela te jogou no chão e foi pra cima de você. Você ameaçou ela. Mas ela começou a bater em você, então você jogou ela pra longe, levantou e quando ela correu na sua direção você saiu da frente dela e ela acabou caindo atrás do balcão. Quando você se reergueu ela puxou você pra trás do balcão. Foi aí que a coisa ficou feia. Você caiu no chão ela começou a apertar seu pescoço, e então você pegou o que estava mais próximo pra tentar se defender. Só que isso era uma faca.


- Não! Para. - Eu interrompo Jesse fazendo sinal com a mão para que ela dê um tempo - Se no início da história você já disse que eu peguei uma faca, eu preciso sentar.


  Eu me sento na cadeira ao lado da mesa e Jesse traz água pra mim.


- Continuando... Aí ela deu um tapa na sua cara e quando viu a faca na sua mão ela pisou no seu braço. Só que, quando ela fez isso você levantou a mão e, mesmo ela pisando no seu braço e apertando seu pescoço, você empurrou a faca no pé dela e ela soltou seu pescoço e começou á gritar.


- E como foi que eu apaguei no meio disso tudo hein?


- Eu to chegando lá. Então todo mundo que ainda não tava olhando vocês duas no "campo de batalha do salto alto" foi correndo ver o que estava acontecendo, inclusive eu, foi quando você tirou a faca do pé dela que ela saiu de cima do seu braço e começou a gritar ainda mais alto. Então ela caiu, mas você levantou, ela começou a te xingar e a gritar cada vez mais alto. Até ai você não fez nada, só secou o braço no vestido e se virou pra ir embora. Mas quando ela percebeu que você estava saindo ela sorriu e gritou: "Vai lá contar pro papai que eu bati em você é querida? Ah! É mesmo! Eu já tinha esquecido que VOCÊ NÃO TEM PAI!"


  Meu coração parou por um segundo, meu sangue congelou por completo. Eu lembrei, lembrei do que tinha acontecido. A partir daí eu não conseguia ouvir mais nada do que Jesse estava falando, eu lembrei de ter voltado na direção da garota quando já estava quase saindo da arena. Havia uma lágrima de raiva escorrendo pelo meu rosto, e o mesmo estava tão quente que a lágrima secou antes de tocar na boca. Foi aí que eu levantei minha mão e quando ela já estava na altura da orelha, quando eu já estava pronta para arremessar a faca Victor apareceu do meu lado e bateu uma bandeja na minha cabeça. Foi aí que eu caí e apaguei.


- Elo. Elo? Você ouviu o que eu disse?


- Infelizmente sim. Onde está o Victor?


- Ele foi pra casa depois que saimos do hospital, ele disse que estava se sentindo mal por ter batido em você.


- Espera aí, hospital?


- É, depois da briga nós levamos você pro hospital junto com a garota sabe, a gente ficou com medo de você ter morrido.


- E ela tá bem?


- Sim, quero dizer, ela teve os nervos do pé perfurados mas em uns três meses eu acho que ela se recupera. E você, já tá pronta pra outra? - Jesse diz sorrindo enquanto se levanta e vem na minha direção. - Não se preocupa com isso amiga, eu sei que você não deveria nem ter feito aquilo pra início de conversa, mas ela também estava errada. Mas e ai, você tá bem?


- To sim, eu só tenho que ir ver o Victor, pra saber como ele está sabe. Mas não precisa se preocupar, dor de cabeça passa rápido.


  Nós duas sorrimos e nos abraçamos, depois que Jesse vai embora eu subo e olho pela janela, quando eu vejo Victor, sentado no telhado. Ele não está me vendo mas mesmo assim, naquele momento que eu o observo eu percebo o quanto eu já ganhei por ter conhecido ele, o quanto minha vida mudou depois que ele apareceu. Antes eu nem abria as cortinas, agora a primeira coisa que faço quando eu acordo é ir para a janela. Ele me repreendeu como um pai, me ajudou como um amigo, e agora, eu tenho certeza que vai cudar de mim como um irmão.

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