Capítulo 5 - Um Bom Telhado

- Oi.


- Olá.


  Eu me sento ao lado de Victor no telhado e ficamos lá em silencio por uns cinco minutos, nenhum de nós se sente confortável pelo que aconteceu, eu por ter chegado perto de matar uma pessoa por que não consegui controlar a minha raiva, e ele por me nocautear pra o pior não acontecer, e falando sério, eu o agradeço muito por ele ter feito isso.


- Valeu, por ontem. - Eu olho para Victor com um sorriso sem graça, na tentativa de melhorar as coisas, mas ele continua sério, parado, encarando o sol na mesma posição que a trinta minutos atrás. Seu rosto está pálido, frio, o vento sacode sua pequena franja e os olhos dele piscam com lentidão e dificuldade, como se estivessem secos.


- Eu não gostei de ter feito aquilo, eu me senti mal, era uma coisa que eu nunca tinha pensado que ia acontecer. - Sua voz soa como uma navalha: seca, fria e afiada, perfurando e rasgando em milhares de pedaços tudo que encosta, me rasgando por dentro. - Você meio que... passou dos limites, não tava pensando direito, eu não podia deixar...


- Tudo bem Victor. - Eu me seguro em seu braço e fecho os olhos. - Eu não estou magoada, e você não precisa estar.


  Ele se deita em meu ombro e se acalma. O sol apareceu um pouco mais, continua muito quente e depois de um tempo lá, sentados no telhado eu percebo que Victor dormiu. Então eu cuidadosamente deito ele no telhado e fico ao lado dele. Até que eu também pego no sono.


+ + +


  Já são dez horas e nós continuamos no telhado. Sinceramente, eu não me importaria de ficar ali, mas o sol já está forte, minha pele arde e a telha começou a machucar minhas costas. Logo acordo Victor. Se conseguisse eu mesma o levaria para a cama, mas é difícil passar por uma janela com alguém nos braços. (smilleface da consciência) Felizmente Elga não nos viu aqui em cima, ela provavelmente iria descobrir por que Victor não jantou ontem, e, falando a verdade, seria horrível se tudo o que aconteceu viesse á tona, mais uma vez.


- Hey.


- Käften.


- Victor, acorde agora. - Eu fico em pé ao lado dele e ele se mexe de um lado para o outro enquanto murmura e repete 'käften, käften'. Eu dou um chute de leve na barriga dele, ele solta um grunido e pula bruscamente pra frente. - Victor é sério, levante-se, eu vou pra casa.


- Que horas são?


- Dez e três.


Ele olha despresívelmente para mim arqueando a sombrancelha e pergunta:


- E três?


- Sim Victor. E três.


Eu estendo a mão para que ele possa se levantar e nós dois caminhamos para a ponta do telhado. Primeiro eu, depois ele. Já no chão eu me dispeço e vou correndo para casa. Eu abro a porta e: minha mãe está lá.


- Onde estava?


Eu caminho em silêncio até a escada.


- Eu perguntei onde você estava. Por que não estava em casa quando eu cheguei? E que roupa é essa? Você acha que isso é roupa decente pra sair na rua?


Eu paro no corrimão e digo:


- Eu estava com o Victor. - Nós não fizemos nada do que ela está pensando, nunca na verdade, mas mesmo assim eu sinto uma pitada de evil smilleface surgindo no meu rosto só por tê-la deixado com raiva, eu queria deixa-la com raiva. Subo as escadas direto pro quarto e tranco a porta. Não quero vê-la, não quero ver a Jesse, não quero ver o Victor, não quero ver ninguém, nem mesmo o Nicholas.


+ + +


  Eu vou pro chuveiro onde fico por mais ou menos meia hora, até eu ouvir um vidro quebrar e a minha mãe gritando. Puxo a toalha e corro desesperada pra ver o que aconteceu. Minha mãe está de joelhos chorando na frente da televisão e tem vidro espalhado pelo assoalho.


- Mãe! Mãe o que aconteceu?


  Ela aponta trêmula para a TV. Em uma fração de segundos eu vejo uma foto minha, e depois ela desaparece. E então, um avião no meio do mar de Sydney: TRÊS VÍTIMAS. Naquela hora parte do desespero da minha mãe passa pra mim, eu só consigo pensar: ele está morto.


  Alguns minutos depois nós já estamos sentadas no sofá esperando, até que o âncora começa á anunciar as vítimas. Foram os piores dezessete segundos da minha vida. Nicholas felizmente não está entre as três pessoas que morreram. Mas como a situação sempre pode ficar pior algo á mais foi anunciado hoje: PUBLICADOS OS RESULTADOS DA NOVA SELEÇÃO.

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