Capítulo 9 - Males da Juventude

- Eloise?


  Alguém está segurando meu braço, sinto ele balançando de leve, estou acordando.


- Eloise chegamos. - Jeffrey está com uma mochila no ombro, inclinado para frente, pronto para se levantar, mas está me esperando. - Você dormiu por umas duas horas.


  Nós nos levantamos e caminhamos até a saída.


- Só pra você saber eu ainda estou dormindo, só que em pé e andando.


- Olha essa é uma habilidade adimirável.


  Assim que ele termina de falar eu topeço no último degrau da escada, mas não me movo um centímetro sequer, Jeff me segura antes que eu perçeba que estava caindo.


- Pena que não é muito segura.


  Ele diz sorrindo enquanto segura meu braço e meu ombro direito.


- Como você fez isso?


- Digamos que eu sou meio rápido.


- Sério?


- Claro que não! - Jeff ri de mim despresivelmente por alguns segundos. - Era óbivio que você ia cair, não estava nem com os olhos abertos.


- Hum.


- Ha, vamos lá, não fique chateada.


- Não tô, eu estou decepicionada.


- Eu posso não ter superpoderes, mas posso te surpreender.


  Jeff começa a correr para o meio do jardim e eu continuo caminhando em direção ao portão. De repente me deparo com minha consciência, mais uma vez, ela faz sinal com a mão para que eu olhe para o lado, ele estava ali, empurrando os óculos sobre seu nariz arrebitado, o cabelo pendendo sobre sua orelha, ele estava voltando em minha direção, e eu já não conseguia entender absolutamente nada, estava impressionada, "mas com o que?"


- Holy shit.


- O que?


- Nada. Não disse nada.


- Ok. - Jeff me olha confuso mas ignora a situação e continua. - É lindo não é?


- Demais. - Eu estava boqueaberta, meio nervosa, tinha me tornado um dos besteiróis que eu tanto odiava. "O que era aquilo?" Eu já não me sentia assim desde os meus treze anos e tinha uma horrível sensação de que iria acabar falando algo estúpido ou passando vergonha em algum momento do dia. Mas por que eu me importava com aquilo? Eu dizia coisas estúpidas o tempo todo, e nunca me preocupava se passasse vergonha, eu ria da situação na maioria das vezes. Aquilo era confuso, era novo, era...


- Eloise tem certeza que já tá acordada? - Ele me diz rindo de mim enquanto tento retomar à minha sanidade mental.


- Tô eu... eu estava pensando em quando vou poder tomar um pouco de café.


- Ok, vamos entrar e eu consigo café pra você. - Ele anda um pouco mais rápido que eu e quando já está um pouco a fente ele volta na minha direção. - Espera aí.


  Ele para na minha frente e analisa minha expressão, eu fico ainda mais nervosa.


- Você é irmã do selecionado não é? Nelson, certo?


- Nicholas.


- Exato! - Ele estala os dedos em frente aos meus olhos. - Está agindo estranho por que não sabe como reagir quando ver seu irmão, principalmente por que ele milagrosamnete sobreviveu ao acidente.


  Eu realmente queria poder concordar com ele, mas não posso, pelo menos não mentalmente, mas agora que ele disse eu começo á esquecer toda a agonia e aquela sensação horrível de puberdade e percebo que finalmente ia vê-lo, eu ia me encontrar com o Nic em alguns instantes e nem estava me lembrando disso! Um sorriso enorme aparece no meu rosto.


- É! É isso mesmo! Eu vou ver meu irmão de novo!


- Eu sei... mas parece que você está um pouco surpresa, pensei que essa era a sua expectativa desde que saiu de casa, não era?


  Do nada, um dos guardas nos interrompe e diz:


- Suas malas serão levadas para os quartos designados. Até lá, sintam-se á vontade.


  Ele sai e Jeff volta à me preguntar.


- Eloise não era isso que você queria?


- Sim era mas... Ah eu não sei! Fica quieto, ele pode estar em qualquer lugar. Vamos procurá-lo!


  Eu o puxo pela mão direita e ele esboça uma reação de surpresa e, ao mesmo tempo, vergonha. Eu olho para ele e vejo suas bochecas ficarem ruborizadas, ele corre junto comigo, não parece confortável com isso, de qualquer forma, não exita. Nós subimos as escadas e chegamos á um corredor onde só haviam janelas com ombreiras douradas e um piso de mármore que brilhava à luz do sol.


- Parece um palácio. - Digo.


- Parece o céu.


  Nós nos olhamos confusos e começamos à rir, continuamos correndo, abrindo todas as portas, quase quebrando algumas coisas, pareciamos crianças.


+ + +


  Chegamos a uma porta branca enorme, havia dois guardas em frente à ela, eles nos pediram para esperar até que pudessemos entrar.


- Jeffrey.


- Que?


- Quando será que nós vamos entrar?


- Não sei. O que será que eles guardam lá dentro?


- Corpos? - Digo sorrindo, nós gargalhamos no corredor até começarmos a ouvir alguns passos, era o Imediato.


- Sejam bem vindos à Sede, é um grande prazer para nós recebe-los em nossa casa.


  Assim que ele termina de falar um rapaz sério e pálido aparece atrás de nós subindo as escadas. Todos voltam a atenção para ele, até os guardas.


- Atrasado Sr. Jackson?


- O que! Queria que eu viesse correndo? - Diz enquantos nos olha com deboche.


- Qual é o motivo da raiva? Está conosco agora, um lugar feliz. - Diz o imediato em uma tentativa de melhorar a situação, que infelizmente não dá certo.


- Eu prefiro ser infeliz pelo resto da vida do que me juntar à esses infantis.


  O Imediato abaixa a cabeça um pouco desapontado, dá alguns passos para trás e sai da sala.


- Você podia ter um pouco mais de ética, não acha. - Digo a ele, mas não lhe dou o luxo se ser observado por mim.


- Que tal assim, você não fala comigo e eu não falo com você.


- Qual é o seu problema? Ser gentil pelo menos por alguns minutos não vai matar você.


- Se isso me matasse eu faria.


  Ele abaixa a cabeça começa a usar o celular, eu o observo por alguns segundos, não parecia estar brincando quando disse aquilo, ele realmente aparentava ser muito infeliz,"por que ele desejaria morrer?"  Por um momento sinto pena dele.

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