Os céus tem um plano para você





          "There was a time,


I used to look into my father's eyes


In a Happy home,


I was a king I had a golden throne"


(Havia um tempo,


Em que eu costumava olhar nos olhos do meu pai


Em um lar feliz,


Eu era um rei, eu tinha um trono dourado)


Nunca fui bom fazer em fazer amigos, mas também nunca fiz questão de tê-los. Tinha meus pais e com eles a vida nunca era chata.


Como qualquer bom adulto os dois trabalhavam, tinham sua própria empresa e vivíamos bem. Eu também tinha que estudar, mas sempre que nos encontrávamos em casa no intervalo das duas atividades era só festa.


As tardes com eles eram repletas de brincadeiras e risadas, as refeições cheias de sorridos e conversas e as noites recheadas de estórias e fantasias.


Todos os dias eram repletos de aventuras e eu com toda certeza era feliz.


Até que tudo acabou.


"Up on the hill across the blue lake


That's where I had my first heart break "


(Lá na colina, do outro lado do lago azul


Foi que meu coração se partiu pela primeira vez)


Era só mais um dia comum. Meu pai tinha ido me buscar na escola como sempre e enquanto ele trancava o portão corri na frente como sempre procurando minha mãe pela casa com um sorriso no rosto animado para mais uma tarde de brincadeiras.


Nunca achei que um sorriso pudesse morrer tão rápido.


Quando cheguei ao quarto dos meus pais vi minha mãe jogada no chão com várias capsulas de remédio derramadas ao seu lado.


Me aproximei hesitante e meio atônico, percebendo que ela não respirava e por alguns segundos eu também não pude faze-lo, a realidade me acertando como um trem.


Senti então dois braços me puxando para longe me abraçando e eu só pude soltar as lágrimas que eu nem percebi que estava segurando enquanto meu pai repetia baixo em meu ouvido me segurando mais forte:


(Don't you worry, don't worry child


See, heaven's got a plain for you)


"Não se preocupe, não se preocupe criança


Veja, os céus têm um plano para você"


Depois de tudo aquilo realmente pensei que tudo mudaria, mas estava enganado.


As pessoas continuaram suas vidas o mundo continuou girando e o tempo continuou a passar e eu percebi que não podia ficar me remoendo para sempre.


Claro que isso não quer dizer que nada mudou. Em casa as coisas nunca foram mais as mesmas. A casa não tinha mais aquele ar familiar de sorrisos e brincadeiras de alguns dias atrás.


Mesmo querendo seguir em frente eu realmente não queria mais brincar, conversar ou sorrir como antes. Tudo me lembrava ela e me deixava ainda mais depressivo.


Um pai também não insistia. Ele tentava ser forte por nós dois e não ficar preso ao acontecido, mas eu via que estava tão quebrado, senão até mais que eu.


Já na escola eu que já era fechado me isolei ainda mais. Não tinha vontade de conversar com ninguém muito menos tentar uma amizade que provavelmente não daria frutos.


Isso pelo menos até ela chegar.


"There was a time, I met a girl a different kind


We ruled the world"


(Um dia


Eu conheci uma garota diferente


Governávamos o mundo)


Não importa o quanto eu tentasse me afastar ela insistia em conversar comigo ignorando completamente qualquer resposta mal-humorada ou tentativa de me afastar que eu desse.


E assim de pouco em pouco, sem que eu sequer percebesse, ela quebrou todas as barreiras que eu tinha criado ao meu redor.


Quando vi já havia contado todo o meu passado a ela, e diferente do esperado ela em momento algum se afastou de mim. Ao contrario se aproximou ainda mais e quando percebia que eu estava minimamente mais triste que o comum (até hoje eu não sei como ela fazia isso) fazia uma das varias gracinhas que tinha em sem estoque e como em um passe de mágica eu sorria e esquecia o que fosse que estivesse me incomodando.


Essa era outra coisa que sempre me impressionou: o efeito que ela tinha sobre mim. Com ela eu não me importava de ser eu mesmo, muito menos sentia culpa em sorrir antes.


Conversar com ela se tornou meu passatempo favorito e logo ela passou de "a garota que não me deixava em paz" a minha melhor amiga e logo após a algo mais que não sabíamos bem definir e nem queríamos. Não precisávamos de um título.


Com ela eu sentia que poderia finalmente deixar o passado de lado e conquistar um futuro ao seu lado. Sentia que juntos poderíamos conquistar o mundo. Ao seu lado eu era feliz, e pensava que ela também era.


"Up on the hill across the blue lake


That's where I had my first heartbreak"


(Lá na colina, do outro lado do lago azul


Foi lá que meu coração se partiu pela primeira vez)


Acho que eu sempre fui muito inocente. Afinal, se ela realmente estivesse feliz ao meu lado não teria pulado do terraço daquele prédio.


Será que todos os seus sorrisos eram falsos? Será que ela realmente gostava de mim ou só fingia? Será que eu realmente fui tão cego ao ponto de não perceber sua dor? Será que se eu tivesse agido diferente ela ainda estaria aqui? Se nunca tivéssemos nos encontrado... Ela ainda estaria viva?


Bom, não importa mais. Até porque mortos não falam e acho que eu nunca vou saber o que ela realmente sentia já que nem uma carta de despedida ela deixou.


E agora estou aqui, na frente de seu tumulo. Refletindo sobre todos esses serás. Sem saber direito que sentir ao vê-lo. Acho que eu ainda não acredito que ela foi embora depois de dizer tantas vezes que não me abandonaria. Ela sempre me deixou assim: confuso.


Depois de alguns minutos encarando sua lápide canso de me lamentar e me dirijo a um ponto mais ao centro do cemitério onde encontravam-se dois túmulos um do lado do outro com os nomes do meus pais.


Aparentemente meu pai quis me esperar fazer dezoito anos já que se foi poucos dias depois do meu aniversário. Talvez não queria que eu fosse para um orfanato, ou... sei lá.


Fiquei analisando o seu tumulo um pouco empoeirado e me lembro de suas palavras no início de tudo, na minha primeira decepção quando eu ainda nem imaginava que tudo isso ia acontecer.


"Don't you worry, don't you worry child


See heaven's got a plain for you"


(Não se preocupe, não se preocupe criança


Os céus têm um plano para você)


e levantando meu olhar ao céu ao mesmo tempo que coloco a mão na lâmina em meu bolso me pergunto quais são os tais planos que ele me disse.


Espero que eles não demorem a se revelar, não sei se vou aguentar esperar muito tempo.


E assim vou embora, ainda segurando a lâmina, mas sem derramar nenhuma lágrima. Afinal, elas já haviam acabado. 




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  Essa fanfic tem como inspiração a musica Don't worry child e o vídeo da S&R que eu coloquei no inicio.

   Eu não pus a musica toda, apenas pequenos trechos que eu achei mais importantes então se alguém quiser ver a tradução completa vou deixar o link: https://www.letras.mus.br/swedish-house-mafia/dont-you-worry-child/traducao.html

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