Esquecidos

Eu nasci em São Miguel, uma favela, não terminei os estudos, me casei muito jovem, tive um marido, três filhos, vida difícil muitas vezes não tínhamos oque comer, um dia estávamos na rua, olhando os carros passarem, meu filho mais novo correu para o meio da rua, e então caiu com uma bala perdida em sua cabeça, eu corri levamos ele para o hospital mais próximo, ele ficou internado, eu via o rostinho dele, cheio de sangue, ele conseguiu sobreviver, mas perdeu a visão de um olho é o movimento de uma mão.
Meu marido, era muito agressivo usava drogas eu já não suportava mais, me separei dele algum tempo depois do incidente com o meu filho, minhas duas filhas já eram mocinhas, e me ajudavam a cuidar do mais novo, as contas foram aumentando, os dias passando, não tínhamos nada para comer, os rostinhos dos meus filhos, então tive que mandá-los para casa da minha mãe, eu morei sozinha desde então, e mesmo assim não conseguia pagar as dividas da casa, foi então que eu me perdi no mundo das drogas, vendi tudo da minha pequena casa, até mesmo a casa.
Agora eu vivia vagando pelas ruas com um carrinho de reciclagem, dormia na rua feito um animal, comecei a me endividar com os traficantes de drogas, lá estava eu, perdi tudo oque eu tinha, sentada em uma calçada, a noite, eu vi se aproximar três homens, eles chegaram mais perto e me agrediram, de manhã, quase não consegui levantar daquela calçada, e pegar um caco de vidro para olhar meu rosto, um rosto magro deformado, meus dentes já não eram mais os mesmos.
Me envolvi com vários homens em troca de dinheiro para usar drogas, sempre passa pela rua da casa de minha mãe, as vezes lúcida e as vezes nem tanto, mas sempre via meus filhos, meu filho foi falar comigo, estávamos na esquina, então passou um homem de moto, e atirou em minha cabeça, caída no chão, com sangue em meu rosto, levantei minha mão até seu rosto, e lhe dei minhas últimas palavras, "eu só queria poder fazê-los felizes", ali estava eu, entregue ao esquecimento.