28 - O Chamado do Titã

Notas Iniciais: 


Desfrutem desse capítulo narrado especialmente pelo ser que vocês mais odeiam no momento (que espero do fundo do coraçãozinho de vocês que não seja eu 😉)


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(O Marcado)


-P-po-favor... m-me dê ma-mais uma... c-cha-chance...


Seus olhos castanhos mel estavam arregalados de pavor e dor enquanto o traidor implorava pela vida miserável.


Mas os Telquines não pararam, eles continuaram a arrancar pedaço por pedaço do garoto. Quando estavam em posse de uma presa, dificilmente eram capazes de deixar o serviço incompleto. A não ser é claro que ele ordenasse.


-Ah meu caro Gabriel, pensei que depois de tanto tempo conosco teria aprendido ao menos uma lição.


Seu semblante pálido e doentio o encarou com pavor das próximas palavras que estavam prestes a serem proferidas.


-Não se deve tirar o brinquedo de um Telquine.


-Por favor não.. não... NÃO. AHHHH...


Ele sorriu se deliciando com a cena quando os gritos começaram.


Fracos.


Todos aqueles vermes denominados "Terceiro Exército" não passavam de seres inúteis e incompetentes.


O cheiro de medo e pavor que impregnou no ar graças aos outros presentes, apenas confirmava isso. E não era necessário nem mesmo ter poderes para sentir, seus olhares não escondiam nada.


Mas ainda podiam ter utilidade nos experimentos, e como peões. Então não havia sido uma perca total de tempo, afinal de contas, aquela garota conseguiu matar muitos antes de ser esmagada por um Centimano.


O cheiro de sangue e dor se misturou aquele odor maravilhoso e ele inspirou satisfeito.


Era incrível como seu corpo se fortalecia cada vez mais com apenas um pouco de diversão, sem contar seus sentidos que eram muito mais aguçados desde que aceitara o acordo...


Esse não é você!


Seu sorriso sumiu quase tão rápido quanto aparecera causando tremores nos ali presentes.


Infelizmente o acordo não tirara aquela persistente voz de sua cabeça. Mesmo depois de tudo que vira e fizera, ela continuava a gritar e lhe azucrinar. Muitas vezes o tirando de momentos tão prazerosos como aquele.


-O garoto apostou alto demais na própria liderança e acabou de quitar sua divida.


Os telquines uivaram de felicidade e aprovação intensificando um pouco o cheiro de medo. Então eles direcionaram olhares famintos aos vermes que deram um passo para trás como se assim pudessem fugir dos monstros.


Seu sorriso se tornou mais macabro enquanto analisava os três que permaneceram no lugar de olhos vidrados e incapazes de se mexer, a não ser é claro que ele permitisse. Mas o cheiro era muito mais fraco neles e não era devido aos rosnados dos monstros...


Então os experimentos estão chegando a algum lugar. E antes do tempo acabar... Isso ele irá gostar de saber.


O seu tempo também está acabando.


Dessa vez ele manteve o semblante intacto. Estava ciente do prazo e qual seria o preço no final. Mas ele não se importava, pois havia entrado naquela por escolha própria!


O pensamento do que estava prestes a acontecer fez com que a voz recuasse para o canto mais escuro de sua mente o deixando sozinho novamente.


-Se não querem ter o mesmo destino daquele miserável, é bom que me tragam algo de útil dessa vez.


Todos balançaram a cabeça, incapazes de encontrar a própria voz. Com um único aceno os vermes e os monstros tomaram seu rumo, aliviados por mais um dia vivos.


Ele analisou a cena a sua volta pensativo.


Estava tudo indo de acordo com o planejado. Os exércitos apenas esperavam a ordem final, as armas haviam ficado prontas muito antes do planejado, o que deixou ambos felizes, e os gritos de tortura dos peões ao fundo davam um ótimo fechamento de tarde.


Um olhar para o que sobrara da carcaça do garoto foi um lembrete de que nem tudo estava nos conformes. Ainda faltava algo que poderia decidir quanto tempo levariam para vencer...


Para qual buraco mágico aquele feiticeiro os levou?


-Senhor?


-Diga.


Ele não se deu ao trabalho de olhar para Sherman, seu cheiro já denunciava que ainda não se recuperara do choque de ver outro verme ser devorado vivo.


-... Nosso líder... ordena sua presença... imediatamente...


-O recado está dado, agora volte para a tenda e diga a empossai que você será o primeiro dessa vez.


-... Sim senhor... obrigado senhor.


Um único aceno de cabeça deu o assunto por encerrado. Ele observou enquanto o garoto se afastava ainda um pouco relutante.


Como eram tolos.


Pensaram mesmo que conseguiriam enganá-lo. Mas ele tinha que admitir que alguns eram muito mais resistentes que outros, como aquela garota...


A imagem surgiu em sua mente antes mesmo que ele tivesse a chance de se controlar...


"Sei que sempre posso contar com você, meu amor".


"Você anda um pouco distante..."


"Eu te amo, pode confiar qualquer coisa para mim".


"Você é meu e eu sou sua J..."


Ele cerrou os punhos e se sentou na grama queimada incapaz de dar mais um único passo sequer...


Ele manteve a respiração controlada, não deixando transparecer absolutamente nada em seu semblante, e todos a sua volta seguiam em frente sabendo que o mais inteligente seria não ficar em seu caminho, principalmente quando aquilo acontecia.


"Porque está fazendo isso?"


"Por favor, por favor me ajude..."


Esse não é você. P...


NÃO!


Tudo se calou e as imagens sumiram como se o vento as levasse todas de uma vez. Elas não lhe pertenciam. Eram lembranças de uma vida que afundara em uma ilha deserta há muito tempo...


Mas a dor permaneceu, assim como o vazio no peito, ela era sua única companheira naquele corpo quase imortal agora. Ele esperava que quando tudo se resolvesse a dor de perde-la ficasse para trás, mas seus espíritos haviam se entrelaçado de uma forma tão inesperada que ele nem sempre era capaz de se controlar.


Em seu pulso, a foice começou a arder como se estivesse em chamas, mas o pequeno brilho era negro como o abismo e carregava um aviso.


Ele estava ficando impaciente de esperar e provavelmente algum monstro, verme ou deus desavisado havia acabado de pagar pela sua demora.


Ótimo. Assim aprendem um pouco de hierarquia.


Mas logo aquilo iria mudar.


Era a única certeza que tinha.


Quando tudo acabasse, e ele conseguisse o que desejava. Então nada mais o atormentaria. Nenhuma de suas lembranças, escolhas, mortes, torturas, ações ou sentimentos...


Tudo ficaria para trás.


Era só uma questão de tempo agora.


Com essa convicta certeza pregada em sua cabeça como um aviso constante, ele se levantou e seguiu em direção ao chamado... ao mesmo chamado que o fez despertar de seus pesadelos em uma noite sem fim e aceitar um acordo que acabaria de uma vez por todas com seu sofrimento.


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Notas Finais:


Espero que tenham gostado e que me desculpem pelo sumiço. Prometo fazer ao máximo para conseguir voltar a rotina de postagens o quanto antes.


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