16- Um passo de cada vez...

Notas Iniciais:


Holaaa Semideuses lindos e maravilhosos 😁😁

Como sempre, demorei, mas aqui estou eu 😆🙃

Espero que gostem, aproveitem o capitulo, desculpem os erros ortográficos e até as Notas Finais 💖



(P.O.V Annabeth)


-Não deixarei ele cometer nenhuma besteira.


  Reyna e Júlio foram embora antes que eu pudesse falar com qualquer um deles sobre meu plano; não que a pretora já não soubesse, mas precisávamos do consentimento de Quiron e depois de Lucas (um dos filhos de Apolo e médico do acampamento) praticamente me expulsar do quarto de Percy resolvi que estava na hora de colocar meu plano em pratica.


-Olha quem decidiu sair do esconderijo. –Will provocou assim que me viu.


  Bufei fingindo estar irritada. –Depois de ser enxotada não tive muita escolha.


  O loiro riu. –E tem sorte de Lucas ter chegado primeiro que eu, porque não seria tão bonzinho assim viu.


Levantei uma sobrancelha. –Que bom pra mim.


-Pode apostar que é, olha só para você. Está horrível! -Devo ter ficado boquiaberta, mas ele continuou com um leve sorriso no canto de seus lábios. –Olha só esse cabelo com um loiro tão apagado! Sem contar a sua cara de quem não dorme a mais de uma semana! Sorte que o Percy não está acordado porque se não desistia na hora!


  Revirei os olhos entrando na brincadeira. –Se ele me viu no Tártaro com uma neblina da morte e não desistiu então não vai se importar com isso. –Apontei para mim mesma e ele riu.


-O coitado não estava pensando direito lá naquele lugar, toda aquela fumaça intoxicante não fazia bem para a cabeça nem para a vista.


  O fulminei com o olhar. –E tenho certeza de que ele aprovaria bem mais se eu estivesse com um saco plástico azul e máscara cirúrgica pendurada no pescoço não é mesmo?


  Ele concordou com a cabeça esboçando um sorriso sarcástico. -Tem gostos para tudo nessa vida.


-Concordo.


  Nós dois rimos, o que fez com que o cansaço fosse embora por alguns segundos, era bom poder descontrair, ao menos um pouco...


-Provavelmente deve ter um motivo muito bom para você sair daquele quarto, caso contrário meu irmão não conseguiria te tirar com tanta facilidade. –Will ainda sorria. –Mas seja lá o que deve fazer, cuide-se primeiro, e não estou falando da aparência dessa vez, apesar de que também pode dar uma melhorada...


-Obrigada pelo lembrete.


  Ele riu dando de ombros. –É meu dever como amigo e médico me certificar de que as pessoas não abusem da própria sorte, e ultimamente você vem se arriscando bastante, então por mais importante que seja esse assunto, tire vinte minutos para você e seu bem-estar, porque não vai conseguir ajudar ninguém se também ficar ruim.


  Concordei com a cabeça sabendo que ele tinha razão. –Pode deixar, obrigada, e qualquer...


-Não se preocupe que um sinal diferente de Percy corremos para avisá-la.


  Sorri agradecida novamente então me despedi dele e de Edvine que estava no balcão da recepção mexendo em alguns papeis.


  Resolvi realmente seguir os conselhos de Will dessa vez e caminhei em direção ao refeitório, o horário de almoço já havia passado, mas com sorte conseguiria furtar alguma coisa da cozinha.


  As ninfas já estavam acostumadas com minhas aparições fora de hora e uma delas deixou um prato com arroz, peito de frango, bife e salada, além de um copo mágico; achei que seria muita comida, mas assim que sentei na mesa do chalé de Atena devorei tudo tão rápido que só então notei o tamanho da minha fome.


  Não havia quase ninguém além de alguns enfermeiros e campistas que também perderam o horário e conseguiram convencer as ninfas de lhe servirem; vi quando Calipso passou apressada com um prato de comida indo em direção aos chalés, ela andou tão rápido que mal tive tempo de chama-la, mas a julgar pela direção que tomava sabia que estava indo atrás de Leo para força-lo a comer.


  Peguei um pedaço do bolo que sobrara da comemoração dos aniversariantes e de ano novo que havíamos perdido e fui comendo no caminho até meu chalé.


  Passei direto por alguns de meus irmãos que se arrumavam para sua próxima tarefa da lista e fui em direção ao meu beliche; eles já me conheciam para saber que não estava muito afim de conversa no momento, apesar de estar curiosa para saber o que ocorrera na reunião daquela manhã...


  Malcolm fora no meu lugar, mas não estava presente e tinha que seguir o conselho de Will e focar em mim no momento...


  Entrei no chuveiro deixando a água escorrer e levar todos os problemas, sujeira e cansaço para longe; não me permiti pensar na esperança de que meus músculos relaxassem, mas nada que eu fazia impedia meus pensamentos de voltarem para o Percy e aquela maldita cicatriz que surgira na noite passada...


E se ele não acordasse dessa vez?


Balancei a cabeça afastando esse pensamento, isso não vai acontecer.


  Penteei meu cabelo de frente para o espelho e tive que concordar com Will, eu não estava em meus melhores dias hoje; a comida e o banho não fizeram com que as olheiras por falta de sono e as rugas de estresse sumissem do meu rosto; ou curaram mais rapidamente o corte da minha bochecha esquerda feita acidentalmente pelo canivete de Percy na noite anterior no momento em que ele, inesperadamente, entrou em convulsão enquanto segurava a faca por precaução.


  Ainda sentia uma leve ardência, mas não iria morrer por aquilo, e tampouco gastaria nossa preciosa ambrosia com um simples corte.


  Sai do banheiro um pouco mais relaxada e vi que o chalé estava vazio; peguei alguns pergaminhos da estante, um dos meus livros de anotações e tirei o notebook de seu esconderijo para leva-lo também.


  Até um ano atrás podíamos controlar a temperatura aqui no acampamento para impedir que chuvas fortes ou a neve entrasse, a não ser que quiséssemos, mas agora, mesmo com o feitiço de Júlio, nem sempre era possível impedir que o clima de fora entrasse; hoje em especial era um daqueles dias, pois aos poucos a neve começou a invadir os campos de treinamento; queria procurar pelo feiticeiro ou por Calipso para tentar controlar aquilo, mas sabia que ambos estariam ocupados no momento e também tinha coisas a resolver.


  Segui meu caminho mesmo sabendo que poderia me arrepender pelo shorts jeans e camiseta do acampamento caso a neve se transformasse em uma nevasca.


-Annabeth!


-Oi, Katie. –Falei enquanto ela saia da casa grande. –Aconteceu alguma coisa?


  Ela olhou para trás e se voltou para mim sorrindo. –Não, a reunião acabou faz um tempinho, mas queria conversar com Quiron e acabei perdendo noção do tempo... estou surpresa de estar por aqui... –Imediatamente sua expressão ficou preocupada. –Percy está bem?


-Sim. –Sorri para tranquiliza-la. –Mas é que cheguei a conclusão de que não vou ajudar muito lá plantada naquela cadeira e acho que serei mais útil aqui fora.


  Katie concordou. –Tenho certeza que sabe o que está fazendo, e se eu fosse você aproveitava que Quiron está "aberto" a sugestões... –Ela piscou e não pude deixar de rir.


-Algo me diz que esse mês finalmente teremos as safras de café...


-Talvez... -Katie deu de ombros tentando parecer indiferente, mas pude ver o brilho em seus olhos. –Mas se quer saber já estava mais do que na hora, e como eu e meus irmãos somos especialista em grãos venderemos o melhor café dos Estados Unidos!


Ri com sua repentina empolgação. –Não tenho dúvidas quanto a isso.


  Katie não aguentou e bateu as mãos com alguns gritinhos de alegria. –Espera só até eu contar para Travis e os outros!


  Então ela saiu correndo me gritando um até logo enquanto ia de encontro aos campistas para contar a novidade. Ri balançando a cabeça enquanto a observava se afastar; era bom saber que em meio a tudo isso ainda tinha pessoas com preocupações normais como nossa super plantação de grãos e frutas...


Isso não vai durar muito...


  Balancei a cabeça focando em meu objetivo. Passei direto pela sala de estar e os cômodos vazios entrando sem bater no escritório de Quiron. O centauro estava em sua cadeira de rodas com as costas arqueadas e uma expressão abatida, hesitei por um momento quando seus olhos foram de encontro com os meus e vi a falta de brilho que era tão comum.


-Anne! –Um sorriso sincero brotou em seus lábios e o cansaço pareceu ir embora. –A que devo a honra de sua presença... –Sua expressão ficou preocupada de repente.


-Percy ainda não deu sinais de melhora, mas está estável.


Falei antes que ele pudesse perguntar e seu sorriso voltou, apesar de um pouco mais fraco.


-Essa é a primeira notícia boa que tenho hoje; mas então o que te tirou de lá?


  Respirei fundo organizando todos os meus pensamentos antes de espalhar o que trouxera na mesa de frente ao centauro.


-Precisamos conversar.


Ele olhou dos objetos para mim e arqueou a sobrancelha. -Devo me preocupar com isso?


Dei de ombros. –Não é sobre café.


O brilho em seus olhos voltou. -Certo, então a resposta é sim.


***


(P.O.V Leo)


  Aquilo foi apenas um obstáculo impertinente e minúsculo comparado aos vários outros aos quais já me livrei...


NÃO!


O que acham de se juntarem a sua amiguinha?


Pipes...


Não podemos fazer nada...


  Apertei a chave de fenda na minha mão tentando controlar a raiva... outra reunião que trouxe mais perguntas do que respostas... e nenhuma solução... ainda não conseguia me conformar que ela realmente se fora, tinha acabado de reencontrá-los para ela simplesmente desaparecer em uma nuvem negra!


  Festus chiou ao meu lado; o afaguei com a mão suja de óleo para acalmá-lo; ele estava em seu tamanho adaptado para lugares considerados pequenos demais para um dragão com sua estatura; essa era uma das modificações que fizera no ano em que viajamos pelo mundo e era muito útil, principalmente quando tinha que usar a oficina do meu chalé ao invés do Banker lá na floresta.


Festus chiou novamente, mas dessa vez em tom alegre e já sabia quem estava atrás de nós.


-Mais um Valdelipso?


-Sim, mas estou apenas conferindo o trabalho de Mason e Danielle. -Peguei um pano que estava tão sujo quanto minha mão e me virei para encará-la. –Na verdade estava trabalhando naquele projeto e...


  Calipso me surpreendeu com um beijo rápido nos lábios; perdi o fio da meada por alguns segundos enquanto a encarava.


-E... hãaa...


  Ela sorriu e me beijou de novo, mas dessa vez agarrei sua cintura a puxando para mais perto; Calipso entrelaçou seus dedos na minha nuca fazendo com que acabasse com qualquer distância entre nós. As bolinhas em meu estomago giravam loucamente e meu sistema entrava em curto circuito, mas não me importei e amaldiçoei o ar por precisarmos dele.


-Se eu soubesse que rolaria um beijo desse teria ao menos escovado os dentes...


  Ela revirou os olhos ainda sorrindo. –Se eu fosse esperar que fizesse isso nunca iriamos nos beijar!


  Fiz cara de ofendido fazendo com que não só ela como Festus também rissem, fulminei o dragão com o olhar.


-De que lado você está afinal? -Ele chiou uma resposta nada educada e abri mais ainda a boca indignado. –Com quem aprendeu a falar desse jeito mocinho?


-Deixe Festus em paz.


  Calipso sorriu cumplice do dragão que pareceu satisfeito o suficiente para voltar a fuçar em uma das caixas de sucata espalhadas pela oficina.


Bufei fingindo estar irritado. –Então vão ficar de complô contra mim de novo?


Ela revirou os olhos novamente. –Pare de ser tão dramático!


-Dramático? Eu?


-Vai me dizer que não está sendo?


-Estou sim. –Admiti. –Mas em legitima defesa, não durmo a mais de 24 horas e estou vivendo a base de barrinha de cereal que pego de meu cinto.


-E se você parasse de drama veria o prato de comida em cima da mesa.


  Olhei para onde ela apontava e imediatamente meu estômago roncou; dei um selinho nela como agradecimento. –Você é a melhor namorada do mundo.


  Ela jogou o rabo de cavalo para trás com pose convencida. –Sei disso.


Ri balançando a cabeça. -Acho que te ensinei bem demais.


  Ela concordou e ambos rimos; então Calipso e eu sentamos em um banquinho enquanto devorava toda aquela montanha de comida; contei como estava indo as modificações de um dos vídeoescudos. Já tinha perdido quatro deles no processo, mas acho que finalmente estava conseguindo entender como as imagens eram transmitidas para ele.


  Quando terminei, Calipso continuou a mexer de onde eu havia parado, analisando com um cuidado extraordinário cada detalhe e peça extra do videoescudo, fiquei a observando trabalhar completamente perdido em seus movimentos calmos e calculados; uma mexa castanha caiu de seu cabelo e resolvi eu mesmo colocá-lo para trás de sua orelha sabendo que ela odiava que qualquer coisa a atrapalhasse; um pequeno sorriso brotou de seus lábios, mas não ousou tirar os olhos do que fazia.


-E você tem conversado com Jason desde a missão? –Calipso perguntou enquanto eu pegava um dos vídeoescudos de teste para tentar concertá-lo.


Suspirei cansado. –Não, ele anda meio que evitando todo mundo ultimamente...


  Infelizmente desde que voltei Jason estava cada vez mais estranho e minha suspeita só aumentava, principalmente depois de sua reação com o sumiço de Piper...


-Eu acho que deve tentar de novo...


A encarei, mas ela não tirou os olhos do seu trabalho. –Falar com ele?


-Não para interroga-lo como fez ontem, e sim para colocar o papo em dia, relembrar de suas aventuras... conversar como melhores amigos fazem, porque assim como você ele deve lembrar da história que os dois tem juntos.


  Não precisei de muito para assimilar o que ela queria dizer e um sorriso escapou de meus lábios. –Você tem razão, vou fazer isso agora mesmo.


-É melhor se limpar primeiro para não parecer que saiu no meio de um trabalho apenas para conversar.


-Você tem razão de novo. –Dei um beijo em sua bochecha e comecei a sair da oficina.


-Eu sempre tenho razão. –Ela falou e não pude deixar de rir.


-Eu realmente fiz um trabalho bom demais.


***


(P.O.V Annabeth)


-Não sei... levando em conta a situação delicada em que estamos acho que algo assim causará mais danos para nós do que para o deles.


-Mas teremos o elemento surpresa do nosso lado. –Rebati. –E quanto mais tempo demorarmos maiores serão as chances de eles encontrarem um jeito de acabar com a nossa vantagem.


  Quiron passou a mão no cabelo um pouco longo e levemente grisalho, depois de quase duas horas discutindo estratégias e apontando todo o tipo de falha possível em meu plano ele finalmente parecia estar desistindo de argumentar.


  Ele me encarou com um pouco de persistência e juízo que lhe restara. -Sabe que estaremos levando mais semideuses em direção a morte não sabe?


  Sustentei seu olhar sem demonstrar qualquer reação. –Sei que essa pode ser a nossa última chance de acabar com isso. –Voltei a me sentar sem nem mesmo lembrar em que momento da discussão ficara de pé. –E como falei antes, escolheremos à risca cada integrante.


-E devo supor que você será uma das líderes? –Sua voz agora possuía o tom de preocupação e apesar de tudo me sentia bem com aquilo.


  Permaneci em silêncio, nós dois sabíamos da resposta, eu nunca proporia algo do tipo se não estivesse me incluindo também. Quiron respirou pesadamente e se recostou na cadeira não escondendo o cansaço que sentia; podia ver os acontecimentos desse último ano cobrando cada vez mais caro dele, mesmo para um ser imortal, o peso das profecias uma atrás das outras e das repentinas mudanças de acontecimentos era tão fácil para ele quanto estava sendo para nós.


-Certo. –Quiron se rendeu. –Mas precisamos do apoio dos dois acampamentos.


-Já conversei com Reyna. –Tentei esconder a animação.


O centauro caiu para trás na cadeira de rodas de novo. –Eu não sei porque não estou surpreso.


  Sorri para tranquilizá-lo. –Apenas comentei... ela deu algumas ideias também, mas falei que iria conversar e pedir sua permissão primeiro.


  Ele ergueu uma sobrancelha não acreditando muito no que falei, mas me mantive convicta; além do mais nós dois sabíamos que eu não aceitaria uma recusa em minha proposta.


-Já que o plano é das duas então porque ela não está aqui para me atacar também? –Sua voz assumiu um leve tom de divertimento.


-Ela está de plantão cuidando de um paciente...


Outro levantar de sobrancelhas. –Chame-a para organizarmos tudo, por favor.


  Concordei com a cabeça e comecei a sair tentando imaginar onde os dois se esconderam dessa vez...


-E diga que Júlio pode vir também se quiser.


Sorri de costas para ele. –Darei o recado.






  Não havia sinal algum de neve quando sai e isso facilitou um pouco na busca; demorei cerca de meia hora até finalmente encontrar Guido pastando em um dos campos mais afastados do acampamento, se os planos de Katie Gardiner dessem certo logo aquele lugar estaria repleto de pés de café...


  Blackjack pousou ao lado do animal e avistei Reyna e Júlio a alguns metros de distância deitados na grama observando o céu; eles conversavam, ambos descontraídos apenas aproveitando a presença um do outro sem se importar com que acontecia; senti uma pontada no peito me lembrando do dia anterior quando eu e Percy fizemos o mesmo, se eu ao menos soubesse o que aconteceria naquela noite teria aceitado ficar mais tempo em nosso esconderijo.


  Reyna riu de algo que Júlio falou e ficou de bruços para encará-lo de cima, seus cabelos estavam soltos e cobriram o rosto de ambos quando ela se inclinou para beijá-lo; fiquei constrangida de presenciar algo tão particular, e achei melhor interferir antes que ficasse ainda mais constrangedor...


-Dessa vez vocês se superaram!


  Ambos ficaram de pé em um salto enquanto procuravam por suas armas; Júlio ativou seus poderes, mas comecei a rir pela reação de ambos o que os deixou extremamente vermelhos.


-Annabeth... como foi que... aconteceu alguma coisa? –Reyna tentava se recompor, mas estava falhando.


-Achei que não viveria para ver você desse jeito pretora. –Ri um pouco mais balançando a cabeça.


-Mais alguém veio com você?


-Não se preocupe que essa imagem vai morrer comigo.


  Ela finalmente relaxou um pouco e forçou um sorriso, Júlio já estava mais descontraído e resolveu entrar na brincadeira.


-Em você eu confio, mas tenho certeza que Blackjack vai espalhar para os outros cavalos.


-E não posso prometer que Percy vai ficar de boca fechada quando descobrir... –Sorri maliciosa.


  Reyna ficou ainda mais vermelha sem saber como rebater; Júlio e eu não aguentamos e rimos de sua expressão.


-Quem diria que a pretora mais temida do acampamento tem um lado tímido.


-Isso porque nunca viu o lado sedutor dela.


  Ri mais e não parei mesmo depois dela me fulminar com o olhar e dar uma cotovelada no soldado.


-Vocês dois estão muito piadistas hoje né.


-O que posso fazer? –Júlio deu de ombros como se a culpa não fosse dele. –Sou hilário.


-Mas tenho certeza que você não veio aqui apenas para... –Ela limpou a garganta e não continuou.


-Na verdade Quiron pediu para chama-la, ele quer que minha cumplice também escute seus argumentos.


  A percepção passou pelos seus olhos e ela imediatamente assumiu a pose de pretora, porém com um sorriso de escarnio.


-Perdi alguma coisa?


  Olhei para Júlio e imitei a expressão de Reyna. –Ele falou para vir junto se quiser.








-Precisamos aproveitar os poucos segundos de vantagem que temos sobre eles antes que seja tarde. –Reyna rebateu o mesmo argumento que Quiron usara para mim.


-E podemos até usar a deusa aprisionada que temos como uma segunda isca, igual o que eles fazem com as nossas famílias. –Júlio tinha os braços cruzados por cima do peito e estava sério assumindo a pose militar.


-Além da maçã dourada que já é feita para isso também.


  Quiron olhava para nós três perplexo demais para dizer qualquer coisa; podia ver sua cabeça trabalhando em uma saída, mas nós estávamos certos, aquele era o momento ideal para agir.


Isso não vai durar muito...


Afastei esse pensamento.


Nós vamos conseguir!


-Vocês conseguiram. –Ele saiu de trás da mesa com a cadeira de rodas. –Mas devem comunicar pessoalmente o outro acampamento... a não ser que já tenham feito isso... por favor me digam que não me pediram permissão por último.


-Posso te garantir que éramos as únicas que sabíamos. –Falei sorrindo. –Jamais faria algo pelas suas costas.


Pude ver um leve brilho em seus olhos e aquilo foi o suficiente para aquecer meu coração.


-Partirei agora mesmo para o acampamento senhor. –Reyna falou.


  Quiron negou com a cabeça. –É muito repentino, precisa se preparar, e é melhor ir durante a noite, mas não conte a ninguém.


-Nada de despedidas.


  Reyna concordou, todos nós sabíamos dos riscos caso chegasse no ouvido da pessoa errada...


-Aproveitem o resto da tarde. –O centauro nos dispensou, mas antes que eu saísse ele me parou. –Quero ver como Percy está, gostaria de me acompanhar?


-Com certeza.


  Quiron contou sobre a reunião daquela manhã nos mínimos detalhes, inclusive a irritação de Leo por não podermos ajudar Piper e de alguns outros semideuses que não entendem o que exatamente está acontecendo; conversamos um pouco sobre algumas das decisões tomadas e quais as medidas extras que teríamos que abordar com relação a fuga de campistas que se deixam levar por pesadelos e tentam ir atrás de suas famílias...


-E se aumentássemos a quantidade de harpias na vigília? Mas sem a ordem de devorar.


-Sabe que essa ordem nunca foi verdadeira, o problema é que as harpias nem sempre gostam de seguir regras...


-Podíamos dar algo como pagamento! –Argumentei já pensando no que fazer. –Elas ganham moradia e uma porção de comida para vigiarem as fronteiras, mas e se dobrássemos a quantidade de comida, além de programarmos turnos para elas, assim o mesmo grupo não teria que ficar o dia inteiro.


-Não é uma má ideia. –Quiron alisou sua barba pensativo. –E talvez com algumas horas de descanso e comida extra elas não tivessem tanta vontade de devorar os campistas...


-Vou providenciar isso ainda hoje. –Falei e ele concordou.


-O quanto antes melhor.


-Serei mais rápida que Katie com a plantação dela.


  Quiron bufou com um meio sorriso. –Acho que estou ficando velho demais para argumentar contra as ideias inovadoras de vocês.


  Ri de sua expressão, passamos pela entrada da enfermaria e demos de cara com dois semideuses que saiam da ala de quartos.


-Thalia. Luke! –Passei meus olhos das mãos que eles rapidamente soltaram para seus rostos. –O que estão fazendo aqui?


-Viemos fazer uma visita para Percy. –Ela respondeu sorrindo. –Achei que também estaria aqui, mas Edvine me contou que você saiu depois do almoço.


-Eu vim de penetra mesmo.


  Luke deu um meio sorriso aparentemente constrangido por ter ido, mas pude ver em seus olhos um leve tremor de preocupação pela situação de Percy e senti meu coração se aquecer novamente.


-E já vão embora? –Quiron perguntou.


-Na verdade fiquei de me encontrar com Travis e Katie para organizarmos as coisas do plantio de café. –Luke falou.


-E se você não estiver muito ocupada a gente podia treinar um pouco de arco e flecha. –Thalia sorriu.


  Notei algo a mais nela... na verdade duas coisas a mais, a primeira estava pendurada em seu pescoço e tinha um lindo símbolo do infinito; o segundo era um círculo prateado com detalhes azuis e pretos que reluzia em sua mão... arregalei os olhos notando o que aquilo significava.


-Pode ir. –Quiron sorriu. –Eu fico com Percy até você voltar.


  Hesitei por alguns segundos... fiquei quase a tarde toda longe dele e queria me certificar de que estava realmente tudo bem... mas o olhar de Thalia e a confiança na voz de Quiron foram o suficiente. Encarei Thalia com um sorriso desafiador.


–Vamos ver se continua tão boa assim.


***


(P.O.V Leo)


-Hey cara. –Surpreendi Jason em seu chalé. –O que está fazendo?


-Hãa... oi... Leo, não esperava te ver por aqui. –Jason levantou em um salto da sua cama e caminhou em minha direção para me cumprimentar. –Quer alguma coisa?


Ele estendeu a mão parecendo se esquecer do nosso toque, de novo; mas me mantive normal.


-Não, é que resolvi sair um pouco da minha oficina para tomar um ar, a mando de Calipso, e como faz tempo que não fazemos nada juntos pensei em treinarmos um pouco de esgrima... se não estiver ocupado com suas tarefas claro.


  Jason passou a mão no cabelo curto... um costume muito frequente durante esses três meses... então me analisou por alguns instantes, depois pegou um pedaço de papel todo amassado do bolso e o analisou... não me lembrava dele ser tão descuidado...


-Poxa cara, agora tenho aula de grego antigo com a Andressa.


  Franzi a sobrancelha. -Estranho... achei que ela e Edvine fossem viajar ainda hoje para checar os negócios na cidade.


  Seus olhos azuis brilharam com a nova informação, mas ele soube disfarçar super bem com uma expressão confusa.


-Devem ter mudado agora porque aqui no meu horário está marcando aula com ela antes do jantar. –Ele olhou novamente para o papel. –Na verdade não duvido que tenham feito isso... você sabe, por conta do suposto espião que estamos enfrentando...


-Você tem razão. –Concordei. –Mas já que ela vai embora podemos dar aquelas escapadas que sempre dávamos para fugir do treinador Hedge, lembra?


  Jason riu com a lembrança. –Só que dessa vez teríamos que fugir de harpias devoradoras de semideuses que não cumprem o horário né.


Sorri com escárnio. –Sabe como adoro um desafio.


-Poxa cara, sabe que não recuso um também, mas se nem Annabeth ou Andressa darão aula, então é a Drew Tanaka e ela repara muito em mim, então se eu faltasse logo Quiron saberia e não daria certo. –Jason parecia realmente desapontado por não poder ir comigo. –Foi mal mesmo cara.


-Tudo bem. –Dei de ombros. –Quem sabe na próxima.


  Saímos juntos de seu chalé e ele se despediu indo em direção a escola; dei de encontro com Calipso no caminho de volta ao meu quarto, ela estava com o rosto e as mãos sujas de graxa, mas as roupas continuavam impecáveis, provavelmente deve ser porque ela escolheu usar preto para trabalhar... tenho que aderir suas técnicas de vestuário.


-Você foi rápido. –Ela falou assim que nos aproximamos.


-Ele tinha aula agora e não quis matá-la para irmos treinar um pouco.


Calipso sorriu. –Isso é um bom sinal não é? Pelo o que você me falava ele sempre foi contra quebrar as regras...


Olhei para a direção que ele havia tomado. –Ele estava sem os óculos...


-Pode ter tirado para descansar a vista.


-Sim...


  Ainda encarava o nada enquanto lembrava de como Jason era... ele com certeza odiava se meter em encrenca, principalmente com o treinador Hedge quando ainda era apenas o nosso professor baixinho e rabugento; me lembro de quantas vezes eu e Pipes tentávamos convencê-lo de escaparmos de uma ou duas aulas e ele sempre argumentava contra... mesmo sendo apenas lembranças implantadas em nossas cabeças por Hera, elas apenas mostravam como ele realmente era, um soldado de Roma que seguia leis à risca...


"Só que dessa vez teríamos que fugir de harpias devoradoras de semideuses..."


  Pipes também não o estava reconhecendo, mas sempre argumentava de que era devido ao estresse... pessoas estressadas não acusavam os outras sem nenhuma prova, muito menos viam seus amigos ou a própria namorada correrem perigo e ignoravam...


  Seja lá quem for aquele garoto, sem sombra de dúvida não era o Jason Grace que eu conhecia, e não acredito que alguém possa mudar tanto tão de repente...


Vou descobrir a verdade, não importa o que tenha que fazer para isso!


***


(P.O.V Annabeth)


-E acha mesmo que pode dar certo? -Thalia atirou mais duas flechas enquanto olhava para mim. Todas acertaram o centro do alvo.


  Dei de ombros e me posicionei para atirar; centralizei o alvo e respirei fundo algumas vezes. –Precisamos usar a pequena vantagem que ainda temos. –Atirei e sorri orgulhosa.


Mais três saíram voando enquanto eu pegava duas; olhei para Thalia que tinha um sorriso vitorioso.


-Quiron está realmente mais maleável, achei que algo assim levaria pelo menos um dia inteiro para convencê-lo.


  Peguei uma terceira flecha e as coloquei em meu arco, esperei que ela fizesse o mesmo e quando estava prestes a atirar dei um assobio alto que a fez se desconcentrar e errar duas flechas, ao mesmo tempo em que atirei as minhas, acertando os pontos que eram dela.


Thalia me olhou de esguelha, me limitei a dar de ombros novamente, já recarregando meu arco.


-Situações extremas pedem medidas desesperadas.


  Antes que eu ao menos tivesse a chance de atirar, Thalia interceptou meu alvo fazendo com que minhas flechas batessem inofensivas nas dela e caíssem no chão; foi a minha vez de olhá-la e a caçadora me imitou.


-Você tem toda a razão.


  Ambas nos encarávamos enquanto ajeitávamos mais duas flechas cada uma no arco, não ousamos olhar para o alvo nem mesmo para mirar no ângulo certo; seus olhos azuis eletrizantes brilharam em desafio e os meus fizeram o mesmo em resposta; o mundo ao nosso redor parecia ter parado.


  Fora Thalia quem me ensinou tudo sobre arco e flecha ao longo desse ano, e sabia que jamais seria tão boa quanto ela, mas eu tinha algo melhor do meu lado...


  Quando estávamos prestes a atirar, foquei em um ponto além dela e arregalei os olhos falando "Luke" em voz baixa.


  Seu olhar fraquejou por um segundo e foi o suficiente para atirar as minhas primeiro, acertando o alvo em cheio. Sorri abertamente ainda a encarando.


-Acho que venci.


Thalia olhou do alvo para mim e então concordou aceitando a derrota. -Você foi bem.


  Dei de ombros. ­-Usei apenas a vantagem que tinha sobre você... -Sentei na grama e coloquei a arma de lado, Thalia fez o mesmo. -O que não teria acontecido caso vocês não tivessem sido descuidos hoje...


  Ela suspirou cansada pelo treinamento, o sol já estava se pondo e o barulho dos campistas terminando suas tarefas e indo para os seus chalés antes do jantar dava a impressão de que havia sido apenas mais um dia qualquer no acampamento...


  Mas a falta da barreira mágica a nossa volta; os ruídos dos monstros tentando invadir; o desanimo aparente de muitos campistas por não poderem estar com suas famílias; a presença das caçadoras, nem todas mais sob o juramento; a enfermaria quase sempre lotada, com Percy e muitos outros entre a vida e a morte; além do fato de Thalia estar olhando fixamente para o círculo prata em seu dedo enquanto com a outra mão alisava o colar com o símbolo do infinito e seus pensamentos voavam para um certo semideus que nem mesmo deveria estar aqui, deixava mais do que claro que as coisas estavam longe de parecerem normais... e provavelmente jamais voltariam ao que conhecíamos...


-Eu queria ter te contado ontem, mas então aconteceu tudo aquilo com Percy e hoje você ficou o dia inteiro ocupada então achei que não seria o momento certo...


-Está brincando comigo né. –Ela me olhou e sorri. –Eu espero por esse momento a tanto tempo, cheguei até a pensar que teríamos que esperar ele morrer e voltar de novo para os dois finalmente caírem na real!


  Thalia sorriu abertamente, então exigi que me contasse tudo nos mínimos detalhes; seus olhos brilhavam sempre que mencionava o nome dele, e sorrisos bobos escapavam de seus lábios a cada parte da história; fiquei boquiaberta com suas expressões, nunca a vira tão feliz em toda a minha vida, cada gesto e fala sua carregavam um pouco dos sentimentos que ambos sentiam um pelo o outro, mas demoraram tanto para admitir...


-Quem diria que Thalia Grace iria se derreter toda por algo tão brega quanto um jantar romântico em. –Brinquei assim que ela terminou.


  Thalia sorriu sem conseguir discordar. –Aquilo foi longe de ser brega, ele conseguiu colocar até o Connor no meio!


  Ri imaginando pela segunda vez a cena. –Não acredito que perdi uma cena dessas.


-Foi hilário mesmo.


-Acho que não tão hilário quanto ver você bêbada né.


Thalia riu de si mesma e balançou a cabeça. –Fiquei apenas levemente embriagada.


  A encarei com escárnio. –Claro, porque chamar o Luke de gostoso em voz alta é só papo de uma pessoa levemente embriagada...


-Eu o chamei de lindão sarado e não de gostoso.


  Ambas nos encaramos e então começamos a rir da situação; deitamos na grama e fitamos o céu, agora quase completamente escuro. Suspirei um pouco mais relaxada, era tão bom ver que ao menos Thalia e Luke haviam se resolvido, o garoto se provou de grande ajuda durante esses quatro meses, mesmo quando estava como Tobias mostrou seu valor e saber que ambos resolveram deixar o passado para trás e construir algo juntos... não poderia pedir coisa melhor...


Isso não vai durar...


  Me sentei novamente fazendo com que Thalia me encarasse um pouco assustada como se tivesse acabado de acordar de um sonho bom; sorri para tranquiliza-la.


-Acho melhor voltar para o cabeça de algas e ter certeza de que aquele preguiçoso ainda está dormindo.


  Ela concordou se levantando e me ajudando a fazer o mesmo. –Quando Luke e eu saímos, Will estava dando mais um pouco de ambrosia para ele... as vezes já fez algum efeito...


  Concordei querendo que aquilo fosse realmente acontecer, mas por algum motivo o néctar e ambrosia não estavam ajudando em nada dessa vez...


  Andamos juntas até o refeitório, a concha para o jantar ainda não havia tocado, mas as ninfas já terminavam os preparos da refeição e sabia que seria questão de tempo até o lugar ficar lotado. Peguei um prato de comida que elas haviam separado para mim resolvendo seguir o conselho de Will.


  Thalia aproveitou para roubar algumas frutas e depois de se despedir foi em direção aos chalés para tomar banho e provavelmente se encontrar com Luke.


  Quando cheguei na enfermaria, Quiron já havia ido embora e o lugar estava um pouco silencioso com os médicos do turno da noite; Corina, do chalé de Apolo, me atualizou quanto ao estado de Percy, que não havia mudado desde minha partida naquela manhã...


  Entrei na sala me deparando com seu corpo inerte na maca, logo senti um aperto no coração enquanto via seu peito subir e descer tão lentamente que em alguns momentos achava que ele não estava mais respirando; a única coisa que provava o contrário era o aparelho que sincronizava seus batimentos cardíacos...


  Depositei um leve beijo em sua boca e me sentei na poltrona ao lado da cama, fiquei alguns segundos o analisando na esperança de que minha presença ali fosse o suficiente para fazê-lo despertar... nada aconteceu...


  Tentei me concentrar no prato de comida em meu colo, mas a fome não veio e forcei algumas colheradas para dentro, então deixei o alimento de lado e me acomodei melhor no assento...


Ele é meu...


  Fechei os olhos por alguns segundos tentando afastar as imagens do sonho que brilhava em minha cabeça... não havia passado disso... um sonho...


Vou destruir todos que você ama...


Suspirei cansada.


Vai ser uma longa noite...  


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Notas Finais:     


  Então o que acharam?
O que querem que aconteça?
O que acham que vai acontecer?

Como disse anteriormente, os capítulos que se seguirão vão ser um pouco mais "tranquilos"... na verdade, provavelmente só mais esse e o próximo kkkk

Obrigada pelo apoio de todos vocês que ainda estão comigo me ajudando e não desistindo de mim 💖💖💖
Bom resto de semana a todos e até a próxima 😉    




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