15- Cada momento importa...

Notas Iniciais:


  Holaaa semideuses lindos e maravilhosos!!! 😁😁

Como sempre, eu tardo, mas não falho não é mesmo kkkk 😉

Antes de mais nada gostaria de agradecer por todo o apoio que vocês estão me dando e por não me abandonarem, mesmo com as minhas mancadas 😅 ❤❤❤

Sem mais delongas aqui vai outro capitulo repleto de emoções e um pouco de romance claro kkkk


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(P.O.V Júlio)


-Argh!


  Fiz careta quase cuspindo o remédio fora, mas Tainara levantou meu pescoço e esfregou minha testa até que engolisse. O liquido desceu raspando em minha garganta e mantive a expressão de nojo mesmo depois que ela me soltou.


-Não foi tão ruim assim. –Tainara sorriu satisfeita e a encarei sério.


-Isso porque não é você que está tendo que tomar essa droga há mais de três meses seguidos!


-Se ficasse de repouso como mandei seu ferimento não abriria toda vez que faz um feitiço!


-Claro! –Ergui os braços exasperado. –Ponha a culpa nos meus feitiços.


-Na verdade estou pondo a culpa no feiticeiro.


  Fiz cara de ofendido. –E que culpa eu tenho de ser o melhor do Mundo? -Ela revirou os olhos e jogou o travesseiro da outra maca em mim. –Ei! Então é assim que trata seus pacientes? Vou ter que relatar para o seu supervisor...


-Faça isso que serei obrigada a falar para uma certa pretora que alguém não quis tomar os remédios... o que seria uma vergonha para um sargento tão renomado...


A fulminei com o olhar e ataquei o travesseiro nela, mas Tainara desviou rindo enquanto pegava o termômetro de seu jaleco de enfermeira e o enfiou na minha boca sem nenhuma cerimônia.


-Quanta gentileza... –Minha voz saiu um pouco estranha por conta do negócio entre meus lábios. –E só para você saber não tenho medo de ninguém!


  Um sorriso de escárnio atravessou sua face enquanto se encaminhava para a porta aberta. –Já que é assim não se importa de eu chama-la para falar isso novamente...


  Estava prestes a impedi-la quando alguém acabou aparecendo na porta e não foi exatamente a companhia que esperava ou desejava; meu corpo também não reagiu muito bem, já que deixei o termômetro cair.


-Naiá! –Tainara parou de rir e se aproximou da irmã. –Aconteceu alguma coisa?


  A líder das caçadoras focou em mim por alguns instantes antes de voltar a atenção a Tainara com um meio sorriso. –Está sim... é só que acabei de dar outra dose de morfina ao paciente da sala 4 e resolvi vim avisá-la.


-Percy ainda não deu sinais de melhora?


-Nem sei porque insistem em dar morfina para alguém que está claramente precisando de ambrosia.


-Não podemos dar mais ambrosia do que já demos. –Tainara passou as mãos nos cabelos. –Daqui a meia hora vamos conferir novamente e se necessário apelamos para algo além da Dimorf...


  Resolvi ignorar a conversa de ambas e tentar pegar eu mesmo o termômetro, mas assim que estiquei o braço a dor aumentou e o aparelho da cama me denunciou com um bipe o que fez as duas me encararem.


-Droga de tecnologia encantada. –Xinguei quando Tainara veio até mim com uma cara de repreensão.


-Por que não avisou que tinha caído?


-Eu gostaria de tentar fazer alguma coisa sozinho, obrigado. –Falei um pouco sério, porém só recebi um tapa no braço. –Ai!


-Pensasse nisso antes de abusar e não me escutar!


-Já falei o quanto você é educada? –Tentei ficar sério.


  Tainara deu de ombros. –O que posso fazer? Fui criada na selva. -Nós dois rimos enquanto ela enfiava novamente o termômetro na minha boca. –Agora vê se fica quieto em.


-Sim senhora! –Reclamei com a boca cheia de novo a fazendo rir mais.


-Precisa de ajuda? –Custei a olhar para Edvine apesar de ouvir a preocupação em seu tom de voz.


-Não... –A indígena escreveu algo em minha ficha. –Se ele se comportar será liberado ainda essa tarde...


  Estava prestes a mostrar a língua para ela, mas o termômetro apitou e Edvine tomou a frente retirando o aparelho da minha boca e verificando; fiquei surpreso demais para dizer qualquer coisa além de olhar seus movimentos...


-Ele está com 36°C. –Edvine falou para Tainara que anotou no papel. –Nada de febre, isso é bom.


-Significa que o remédio fez efeito. –Ela sorriu satisfeita me encarando.


-Não vou agradecer por me forçar a tomar aquela coisa. –Fingi estar sério o que a fez rir e revirar os olhos.


-Agradeça a Reyna que queria vê-lo bem antes dela partir... –Tainara cantarolou baixinho.


  Imediatamente senti meu rosto esquentar e não pude evitar de olhar para Edvine que parecia concentrada em esterilizar o termômetro, apesar de ver sua postura ficar rígida de repente...


-Se quiser chamo ela agora mesmo...


-Nem se...


-A reunião ainda não terminou. –Edvine surpreendeu a nós dois quando começou a falar ainda em sua tarefa. –Mas tenho certeza que ela será a primeira a vir quando acabar... ela sempre faz isso...


  Essa última parte Edvine falou mais baixo, quase como um suspiro. Encarei Tainara sem entender absolutamente nada, mas pela sua expressão, ela estava tão confusa quanto eu. Revirei os olhos cansado me jogando para trás na cama e colocando um dos braços sob os olhos.


-O que você precisa é de repouso. –Tainara falou, mas não me dei ao trabalho de olhá-la.


-Concordo. –Edvine também se manifestou. –Ele está mais pálido que o normal... e a febre pode voltar a qualquer momento...


-Então nossos serviços não são mais necessários. –A voz de Tainara começou a se afastar, porém seus passos pararam de ecoar.


-Então acho que também vou, já que não precisam mais de mim por aqui...


Aquela voz....


  Arregalei os olhos e imediatamente me sentei olhando na direção da porta, onde Reyna estava recostada com os braços cruzados e um sorriso sarcástico no rosto.


  Meu coração falhou uma batida sem eu nem mesmo perceber e não pude deixar de alargar o sorriso.


-Reyna! –Tainara a abraçou e a pretora retribuiu. –Não tive tempo de vê-la muito bem desde que chegou... e como você está?


-Estou bem. –Ela deixou de me encarar para falar com a indígena. –A reunião acabou agora e pensei em vir aqui para ajudar... mas vejo que está tudo sob controle...


-Cof! Cof! Cof! –Fingi uma tosse seca e de profissional que chamou a atenção das três. –Acho que não estou me sentindo muito bem...


-Mas Tainara e Edvine podem cuidar disso.


  Seu tom era provocativo e se não a conhecesse, parecia que estava tentando esconder um pouco do ciúme pela líder das caçadoras, minha ex-noiva, estar aqui.


-Infelizmente estou no horário de almoço e Edvine precisa conferir os outros pacientes, então já que havia se oferecido como voluntária... precisamos de ajuda. –Tainara escondeu o riso, mas pisquei para ela agradecido.


  Reyna também tentou manter a pose e deu de ombros. –Bom, neste caso... eu faço esse sacrifício.


  Tainara concordou e pegou a mão de Edvine a puxando para fora do quarto, a líder das caçadoras fechou a porta logo que saiu, mas não sem antes me encarar uma última vez, o que me deixou sem graça e por alguns segundos me fez esquecer quem estava ali.


-Então no que posso ser útil? –Reyna começou a andar pelo quarto sentando na maca ao lado.


-Cof! Cof! Cof! –Me torci na cama e a encarei com a minha melhor expressão de dor. –É muita gentileza sua gastar seu precioso tempo comigo.


-Não tive muita opção mesmo. –Ela deu de ombros novamente.


  A fulminei com o olhar e sorri malicioso. –Na verdade se não me falha a memória foi você que apareceu aqui...


-O que posso fazer? Adoro ajudar as pessoas. –Ela deitou na cama dramaticamente me fazendo rir.


-Certo. Já que está aqui, estou com uma dor estranha no meu ferimento...


  Reyna se levantou parecendo realmente preocupada e imediatamente puxou minha camiseta para analisar melhor.


  Seu toque fez minha pele se arrepiar, ela estava tão perto que podia sentir o cheiro de chocolate que havia se tornado tão comum nela nesses últimos meses...


  Sua trança lateral não possuía um único fio fora do lugar, como sempre acontecia quando estava no papel de pretora; parecia que até seu cabelo possuía consciência de que seria melhor não a incomodar nesses momentos...


  Ela já havia tirado a armadura e agora estava só com a camiseta roxa e o jeans. Reyna hesitou em me tocar e franziu a sobrancelha.


-Não estou vendo nada de diferente...


-Então é melhor se aproximar mais, porque a dor ainda está aí.


  Falei quase como um sussurro e os pelos de sua nuca se eriçaram o que me incentivou a puxar mais a camiseta para que ela enxergasse melhor.


  Reyna começou a passar a mão pelo meu abdômen como se estivesse traçando uma rota em mim, ela parecia muito concentrada no que fazia e minha respiração começava a ficar descompassada... queria agarrá-la naquele momento, mas estava tentando me conter, até que ela me encarou com os olhos brilhando.


-Acho que já sei do que precisa!


  Me acomodei enquanto ela se aproximava nos deixando a centímetros um do outro; não consegui desviar de seus lábios.


-E o que é...


  Reyna puxou algo do bolso e deixou escapar um sorriso conforme mostrava a barra de chocolate com pedaços de amendoim.


-O único remédio que realmente funciona para você!


  Não pude deixar de sorrir, apesar de ficar um pouco desapontado; peguei a barra e a abri dividindo igualmente para ambos.


-Você me conhece perfeitamente deusa da beleza!


  Ela fez uma careta enquanto se sentava de frente para mim na maca. –Já falei para não me chamar disso.


  Comi um pedaço sentindo o chocolate derreter na boca e tirar todo o gosto amargo. –Não vejo porque não, é a mais pura verdade.


  Reyna ficou levemente corada, mas se recompôs. –Não me compare com a deusa mais falsa e horrível do Olimpo.


-Você é um bilhão de vezes melhor que aquilo que se acha a maioral. –Rebati a fazendo me encarar. –E sua beleza também está muito acima da dela, por isso a chamo de deusa da beleza e não de Vênus, a vaca falsa e descarada.


  Ela riu revirando os olhos. –Você não presta Horfman!


  Também ri levando as mãos para o alto. –O que? Só falo a verdade! -Reyna riu novamente me levando a encará-la sarcasticamente. –E sei que adora meu lado imprestável.


-Para isso teria que gostar de você todo.


  Fiz cara de ofendido enquanto ela não parava de rir; peguei o travesseiro das minhas costas e ataquei na pretora que me encarou com a boca aberta.


-Como se atreve?


Dei de ombros com um sorriso malicioso. –O que pretende fazer a respeito?


  Reyna me encarou mortalmente e jogou o travesseiro de novo, mas sabia que era algum tipo de distração, então não me dei ao trabalho de segurá-lo.


  Estava certo, pois ela aproveitou para roubar o resto do meu chocolate.


  Deixei que o fizesse só para ficar com as duas mãos ocupadas e não me ver pegando em seu pulso e a puxando contra meu peito. Isso a deixou surpresa demais para tentar impedir o beijo que roubei dela logo em seguida.


-Júlio Horfman! –Ela me encarou ainda de olhos arregalados, mas com tom brincalhão. –Você é louco de fazer isso com...


  Roubei outro beijo dela a fazendo ficar quieta; depois a encarei sorrindo a acomodando melhor em cima de mim o que a fez rir.


–Sou louco por você, Reyna Ramirez-Arellano.


  A beijei novamente sem dar tempo para que ela protestasse, e aos poucos Reyna cedeu permitindo que aprofundasse o beijo.


  Quando me dei conta, a posição havia mudado e era eu quem estava por cima dela, assim como não fazia ideia onde minha camiseta tinha ido parar; mas não me importei e continuei a beijando deixando de lado qualquer preocupação com o Mundo exterior no tempo em que aquele momento só nosso durou...


***


(P.O.V Tainara)


-Por que falou que eu tenho pacientes para conferir se já vimos todos? –Edvine me questionou logo que saímos do quarto.


-Porque os dois são orgulhosos demais para admitir que queriam passar um tempo juntos então tive que dar um empurrãozinho. –Continuei andando chegando a sala de espera, onde um dos filhos de Apolo fazia anotações. –Fora que estou realmente com fome.


-Mas ela não tem tanta experiência como a gente, e se acontecer alguma coisa precisamos estar perto para ajudar.


  Parei a alguns centímetros da saída e me virei para encará-la tentando decifrar o que havia por trás daquelas palavras... não que precisasse de muito...


  Já vi pela visão dos dois o que aconteceu e o resultado de terem se apaixonado um pelo o outro, mesmo que minha irmã alegue que não sentia o mesmo que ele e por isso escolheu se juntar a caça... de novo... sei que ela se faz de durona, mas foi a primeira a se entregar, a primeira a revelar o que sentia, a primeira e única a ajuda-lo quando tudo começou... e a primeira a desistir...


  Desde que nos reencontramos após a missão para salvar Thalia, sabia que seria difícil a convivência, principalmente depois do retorno de Júlio junto com Reyna naquela viajem relâmpago logo que voltamos; mas durante esses quatro meses, tivemos tantas missões e batalhas que nem mesmo dava tempo de pensar em um encontro entre os dois com menos de dez pessoas em uma mesma sala, porém sabíamos que uma hora ou outra isso ia acontecer.


-Esqueceu alguma coisa? –Naiá perguntou intrigada.


  A encarei com mais atenção. –O que exatamente você sente pelo Júlio?


  Naiá arregalou os olhos e balançou a cabeça. –O que?


-Você me ouviu! E não adianta vim com esse papinho de que nunca gostou dele de verdade e só estava "iludindo" aos dois; porque as vezes pode não parecer, mas ainda sou sua irmã e te conheço melhor do que qualquer um, até mesmo que a sua nova família!


  Disparei fazendo o possível para manter a calma e não desabar com a dolorosa verdade por trás de tudo.


  Naiá, por outro lado, não fazia o mínimo esforço para se controlar, na verdade parecia até que eu havia perguntado sobre o tempo no acampamento; e isso fez com que substituísse o ressentimento por raiva.


  A líder das caçadoras caminhou até uma das cadeiras que tinha na recepção e só então percebi que o garoto tinha saído; ela fez sinal para que eu sentasse. -Por favor. –Pediu quando hesitei.


  Cerrei os punhos, mas fiz o que pediu e a encarei com tanta indiferença quanto a que ela me olhava. Naiá respirou fundo antes de começar.


-Sei que não sou a melhor no quesito irmã ou família... vocês todos viram o que aconteceu e nem se eu quisesse conseguiria esconder meus sentimentos... a caça e as caçadoras me libertaram e mostraram do que sou capaz, mas não significa que deixei de sentir ou as vezes até me pergunte o que teria acontecido se minhas escolhas fossem outras... mas para o bem ou para o mal tudo que passamos nos trouxe para cá e nos deu a oportunidade de ir muito além do que imaginávamos ou sonhávamos! –Ela segurou minha mão e abriu um grande e sincero sorriso. –Ter a oportunidade de vê-la novamente e poder ficar ao seu lado, foi um dos melhores presentes que já ganhei, mas...


-O fato de reencontrar Júlio também despertou os mesmos sentimentos...


  Naiá apertou minha mão e balançou levemente a cabeça com os olhos fechados. –Não foi totalmente igual a quando te vi, mas Júlio também esteve presente em uma grande parte da minha vida e quando o olhei novamente pela primeira vez depois de tantos anos... e então em meu quarto com sua antiga roupa de sargento... e todas as outras vezes depois disso, a cada encontro casual, troca de olhares despercebidos.... Eu pensei que... por um momento achei que...


-Os dois ainda poderiam dar certo...


  Ela não respondeu, mas sabia que era isso, mesmo tentando esconder durante todo esse tempo, sua postura mudava quando ele estava perto, principalmente com Reyna junto; queria ampará-la e dizer que aquilo poderia ser possível se ela realmente quisesse, mas estaria mentindo para mim mesma.


  Vi o jeito como a pretora e Júlio se olham, o modo como protegem um ao outro sem nem perceber, ambos passaram por muita coisa até finalmente encontrar alguém que os completasse e jamais seria capaz de tirar isso deles, mesmo que fosse para "ajudar" outro irmão...


-Você realmente não é uma das melhores quando se trata de família. –Falei sorrindo e ela retribuiu com um meio sorriso. –Mas ninguém é realmente bom nisso ou em qualquer outra coisa... damos nosso melhor para agir da forma certa, porém não podemos ser especialistas em tudo.


-Mesmo que tente por séculos né... –Ela esboçou um sorriso triste.


-Eu acho que está confundindo saudade com amor! –Naiá me olhou surpresa. –Júlio foi seu primeiro amor, foi a primeira pessoa com quem provou um sentimento diferente do familiar... e quando escolheu retornar ao mundo das caçadoras, deixou uma parte de você para trás, uma parte que achou que nunca mais recuperaria, até o momento em que viu a oportunidade de começar do zero novamente... –Fiz uma pausa. -Mas não é isso que realmente quer, a caça faz parte de você, graças a ela que seguiu em frente durante todo esse tempo e tivemos a chance de nos reencontrarmos. –Apertei suas mãos entre as minhas. -Júlio foi uma parte linda e maravilhosa da sua vida e as vezes você sente saudade de quando as coisas eram muito mais simples, mas confie em mim quando falo que não é isso que você quer, o seu lugar é junto das caçadoras fazendo exatamente o que sempre sonhou!


  Os olhos de Naiá estavam lacrimejando e me surpreendi com sua mudança de expressão, então a abracei forte e ela retribuiu.


-Pode ser que um dia você e Júlio se tornem grandes amigos, é só questão de tempo e paciência...


  Naiá me apertou ainda mais e depois me olhou com um grande sorriso. –Quando foi que cresceu tanto?


  Ambas rimos e baguncei seu cabelo deixando a tiara torta. –Muita coisa mudou desde que ressurgi dos mortos.


Ela riu novamente concordando, então levantei a puxando comigo.


–Agora vamos que já perdi metade do meu almoço!


***


(P.O.V Júlio)


-Aonde pensa que vai?


  Will cruzou os braços por cima do peito com as sobrancelhas erguidas enquanto encarava a mim e Reyna que soltara minha mão assim que o vimos na recepção.


-Já estou melhor. –Respondi com o meu melhor sorriso o que só fez com que o garoto levantasse ainda mais a sobrancelha.


-Tainara falou que você tinha que ficar de repouso pelo resto da tarde. –Ele puxou alguns papeis de cima do balcão de recepção encontrando minha ficha com muita facilidade, apenas para confirmar o que dissera. –E ela ainda não voltou do almoço com Edvine e C...


-E...


Ele fez uma pausa. –Não importa, o ponto aqui é você...


  Estreitei os olhos sabendo que teria uma pequena conversa com um certo burlador de regras depois... mas resolvi fazer o que ele falou e focar em minha saída.


-Na verdade o foco deixou de ser eu a dois meses quando vimos que não adianta fazer nada com relação a meu ferimento, já que ele insiste em abrir. –Apontei para minha barriga que Reyna havia enfaixado por precaução. –Então não vejo o porquê continuar desperdiçando macas e tempo comigo enquanto temos um problema muito maior na sala ao lado da minha.


  Ele sabia a quem me referia, Percy não dava qualquer sinal de melhora desde que aquela marca em forma de folha de carvalho apareceu como uma cicatriz na noite anterior.    


  Will ainda parecia hesitante, porém Edvine abriu a porta naquele exato momento não parecendo muito surpresa com a nossa pequena "reuniãozinha".


-Júlio já pode ser liberado.


-Mas precisamos garantir que o efeito do antidoto será mais duradouro dessa vez...


-Todos tivemos um dia cheio e a noite de ontem já lhe deu aventuras demais por um tempo... –Edvine possuía um olhar determinado. –Então não acho que ele vá fazer alguma coisa além de aproveitar o resto da tarde.


  Encarei a garota sem entender o que tinha acontecido entre a uma hora em que a vi pela última vez e agora, mas fiquei feliz por Will ter concordado, mesmo que ainda receoso.


-Certo. –Ele assinou minha ficha a entregando para a líder das caçadoras. –Mas fique de olho nele e me avise caso haja qualquer mudança. –Seu olhar se direcionou a Reyna que assentiu.


-Não deixarei ele cometer nenhuma besteira.


  Quis protestar, mas me limitei a concordar, pois estava ansioso demais para sairmos de lá logo de uma vez.


  Um último assentir de Will foi o suficiente para que saíssemos porta a fora; claro que notei o olhar de esguelha que Edvine direcionou a mim e minha falta de vestuário, mas me limitei a balançar levemente a cabeça em sinal de agradecimento pela pequena ajuda, o que a fez retribuir.


  Passamos apressados pelos campos de treinamento que ficavam próximos a enfermaria, Reyna imediatamente assumiu sua pose como superior e líder enquanto cumprimentava alguns campistas.


  Eu a seguia, mantendo a distância que ela sempre pedia quando estávamos em público, pelo menos com uma plateia tão vasta como aquela; as vezes parava e conversava com um ou outro semideus sobre o treinamento ou minha recuperação, para não levantar suspeitas quanto a estarmos seguindo o mesmo caminho; como se todos já não soubessem da gente, mas mesmo assim Reyna insistia nessa precaução extra... o que por hora eu cedia...


  Não demorei para notar a mudança na expressão corporal da pretora quando ela parou para falar com Drew, que a chamara para saber onde ela se enfiara depois da reunião; como se isso fosse da conta dela.


  A resposta de Reyna deve ter sido semelhante, já que a outra a fulminou com o olhar prestes a xingá-la, até que seu olhar caiu sobre mim que as observava fingindo assistir a aula de esgrima.


-Júlio! -Seus olhos brilharam como se tivesse avistado mais uma presa, então ela acenou para que me juntasse a elas.


Reyna não ousou virar para trás ou para o lado quando me aproximei a passos hesitantes.


-Oi... hã... perdoe-me, mas como é seu nome mesmo? –Fiz cara de desentendido.


  Uma linha fina se formou em seus lábios, porém ela logo se recompôs abrindo um sorriso sedutor. –É Drew seu bobinho. Mas não teria como você saber, já que nunca lhe disse... porém tenho certeza que agora não vai mais esquecer, se sua capacidade de memorizar for metade do que seu porte físico é...


  Seu olhar recaiu sobre meu abdômen desnudo e pude sentir a tensão se triplicar. Tentei lembrar onde havia deixado minha camiseta e porque cargas da água resolvi vir sem ela, mas lembrei-me que Reyna a roubara de mim, então sorri sabendo que ela não poderia me culpar totalmente pela situação.


-Sinto muito. –Falei com um sorriso sínico. –Mas só memorizo coisas realmente relevantes e se você não se importa estou de saída.


  Sua boca se abriu em descrença e virei as costas antes que ela tivesse a chance de pensar em qualquer coisa, não ousei virar para trás em nenhum momento sequer, mas senti quando Reyna se aproximou pouco antes de chegarmos aos estábulos.


-Nada mal não é mesmo?


  Falei com escarnio, mas ela nada respondeu e assim que virei para encará-la, fui recebido com um pedaço de pano jogado bem na minha cara.


-Mas o que foi que fiz dessa vez?


-Apenas coloque essa camiseta de volta que isso não é jeito de um sargento desfilar por ai.


  Reyna saiu pisando duro indo direto para o estábulo de Guido, o cavalo estava com o focinho todo sujo de açúcar dos donuts que pedi para Luke dar a ele naquela manhã, e ficou muito feliz de ver sua dona, até sentir a tensão no ar e imediatamente olhar para mim com o seu famoso levantar de sobrancelha. Quase podia ouvir sua pergunta.


"O que fez dessa vez pedaço de grama ambulante"?


  Levantei as mãos para o alto sem entender absolutamente nada; então antes de questioná-la novamente resolvi fazer o que ela havia mandado por precaução.


-Achei que tivesse dado uma resposta no mínimo ignorante para Drew...


Reyna parou de afivelar a sela de Guido e voltou-se para mim, sua expressão estranhamente calma naquele momento.


-E achei que tivesse dito para não sermos vistos juntos em público.


  Foi a minha vez de levantar a sobrancelha e ficar irritado. –Então deixa eu ver se entendi. –Dei um passo entrando no estábulo. –Essa sua revolta não foi porque aquela garota quase se jogou em cima de mim, de novo, nem pelos olhares dos outros campistas enquanto vínhamos até aqui. –Dei outro passo e agora estávamos apenas a centímetros de distância. –Ficou brava porque acredita que alguém se importe com dois semideuses andando lado a lado enquanto conversam! Na verdade, três semideuses parados conversando pode ser muito pior não é mesmo. O que será que vão pensar da pretora parando para falar com seus colegas?


  Ela me encarava perplexa com a minha fúria, meu peito subia e descia enquanto tentava me controlar; de todas as coisas que Reyna poderia ter me dito, aquela sem sombra de dúvida fora a pior... quer dizer então que eu só era útil para consolá-la quando não tinha ninguém por perto para fazer isso?


-Diga a verdade... sou só um divertimento pra você pretora?


-Mas é claro que não!


  Reyna passou a mão no cabelo o despenteando, então começou a andar de um lado para o outro no pequeno espaço.


-Como depois de tudo que passamos pode pensar algo assim de mim?


-Me desculpe se é exatamente essa a impressão que tenho. –Cruzei os braços ainda levemente irritado. –A primeira e última vez em que tivemos realmente algum contato, além das formalidades, na frente de mais de meia dúzia de pessoas foi quando praticamente te obriguei a vir até o acampamento comigo, e mesmo assim não durou mais do que alguns minutos antes de você inventar "coisas" para fazer.


-Leo e Calipso apareceram com uma entrada que deixou todos alarmados! –Ela parou de caminhar me encarando novamente.


-E isso se aplica a todas as outra vezes também?


  Minha raiva aumentava enquanto lembrava de cada momento em que estávamos juntos e ela simplesmente se afastava quando alguém se aproximava, sempre com uma desculpa nova ou simplesmente dizendo que tínhamos que manter tudo em segredo até ter certeza do que faríamos. E quando a questionava ela me beijava fazendo com que eu perdesse o foco... mas não dessa vez!


-Sinto muito se não sou acostumada a esse tipo de atenção!


  Bufei revirando os olhos. –Está me dizendo que a representante de uma cidade enorme, a qual tem que estar sempre em frente às "câmeras", ou falando com seus súditos ou liderando uma legião inteira de soldados para alguma batalha, não está acostumada com esse tipo de atenção? –Parei para respirar ainda a encarando. –Defina que tipo é esse?


  Reyna tentava manter o olhar firme e inalterado, mas ela sabia que não funcionaria comigo, fui capaz de conhecê-la melhor nesses quatro meses do que muitos em uma vida inteira de convivência, e sabia que ela estava prestes a se render.


-Como você pode ser tão inteligente e tão burro ao mesmo tempo? –Ela alterou o tom de voz com raiva no olhar.


-Como é?


–Quando estou falando com meus "súditos" ou liderando uma guerra não tenho que me preocupar com o que ninguém vai pensar de mim, faço o que julgo ser certo e sigo a linha da razão e lógica. Agora nada é lógico perto de você!


-Mas...


  Ela levantou a mão para me silenciar. –Os sentimentos que tenho por você são confusos e diferentes para mim, é tudo muito novo e estranho; as vezes fico perdida sem saber como agir e tenho medo é isso!


Levantei a sobrancelha. –Medo?


-Não é um sentimento tão estranho assim se quer saber. –Reyna retrucou, mas sua expressão começou a se suavizar. –As coisas estão cada vez mais complicadas e são poucas as pessoas em que ainda podemos confiar, e não quero correr o risco de tirarem ou me ameaçarem com uma das únicas pessoas com quem me importo de verdade!


  A encarei estudando cada gesto seu, os ombros encurvados e cansados, os cabelos levemente bagunçados, a respiração um pouco descompassada depois de tudo que falou, o olhar fixo no meu, porém distantes...


  Pisquei algumas vezes ainda tentando assimilar tudo que ela dissera... Reyna Ávila Ramirez-Arellano, a pretora mais fechada e calculista, havia acabado de se declarar bem diante dos meus olhos e dos de Guido!


  Ela ainda esperava por uma reação minha e tudo que consegui fazer foi quebrar a pequena distância que havia entre nós e puxá-la para tão perto de mim quanto achei possível, selando nossos lábios como se fosse a última vez, tentando decorar cada gosto seu.


Encarei sua face levemente corada, indo de seus olhos ternos e negros para os lábios rosados e entre abertos.


-Já passei por coisas muito piores do que simples ameaças... –Passei o polegar no seu lábio. –E você deve ter notado que não é tão fácil assim de se livrar de mim.


-Disso não tenho dúvidas.


  Ela começou a rir depois de fulmina-la com o olhar; segurei seus ombros para que voltasse ao foco.


-A questão não é quando e se as ameaças vão acontecer, somos semideuses essa é a vida que levamos, se formos nos privar das coisas mais simples e boas por conta disso, aí então estaremos deixando que eles nos dominem por completo. –Beijei sua testa. –E eu não consigo mais enganar a mim mesmo quanto ao que estou sentindo. –Beijei os dois lados de sua bochecha, de forma lenta sentindo sua pele se arrepiar com meu toque.


-E o que exatamente está sentindo? –Sua voz parecia mais como um sussurro.


  Beijei a ponta de seu nariz. –Reyna... -Rocei nossos lábios a provocando. –Eu estou completamente apaixonado por você...


  Ela deu fim a distância me beijando de forma ardente e surpreendente, e eu soube naquele momento que não havia mais nada além de nós... um nós que duraria o tempo que quiséssemos!


***


(P.O.V Reyna)


-Então não chegaram a nenhuma conclusão? –Júlio pegou mais um biscoito o enfiando inteiro na boca.


-Nada do que já não tenhamos pensado antes... –Suspirei cansada olhando para a campina que se estendia ao nosso redor.


Júlio deitou com os braços atrás da cabeça. –Eles não devem ter ficado muito contentes...


-Leo é o que está mais irritado com tudo isso... –Uma brisa fresca despenteou um pouco mais meus cabelos, mas não me importei. –Cada vez mais semideuses estão sumindo e nem mesmo temos certeza do que está acontecendo com eles ou quais são os que realmente aceitaram o acordo ou foram forçados a isso... –Comecei a brincar com a grama. –E o sumiço de Piper abalou todo mundo.


-Menos o namorado dela né.


  Passei as mãos no rosto cansada, então deitei ao seu lado mantendo a vista no céu azulado. –Ele foi o primeiro a aceitar que era impossível fazermos alguma coisa, assim como se manteve afastado de todos durante a reunião.


-Ficaria surpreso se ele tivesse agido diferente.


  Olhei para Júlio que possuía uma leve carranca; me apoiei em uma das mãos. –O que você sabe que ainda não me contou?


  Júlio fez o mesmo que eu. –Ontem à noite, ele era o único que não estava presente na arena quando fizemos o feitiço e o vi se esgueirando pelos cantos durante a confusão com Percy como se estivesse...


-Tentando disfarçar sua ausência...


  Ele assentiu e senti peso extra da nova informação... imediatamente as suspeitas que tínhamos desde que a nova profecia fora desvendada começaram a soar na minha cabeça.


Há um espião no acampamento...


  Tentei afastar esse pensamento, conhecia Jason a muitos anos e sabia que apesar dessa fase estressada ele não era assim; sempre foi leal aos amigos e a Roma.


-Sei o que está pensando. -Olhei para Júlio que me encarava fixamente. –Mas conheço e sei que ele não é capaz de algo assim!


–Não se esqueça que as pessoas podem mudar... mesmo que as vezes a gente acredite ser impossível, se não conhecemos totalmente nem a nós mesmos quem dirá os outros...


-Sei disso. –Suspirei e comecei a desenhar círculos na toalha de mesa. –É só que... eu não acredito que alguém possa mudar tão drasticamente sem motivo algum... e não podemos esquecer que dentre todos os nossos suspeitos, Jason é o menos relevante...


  Júlio bufou. –Para mim é o principal; não sei como ainda tenta defender ele mesmo depois de todas as provas de que...


-É melhor parar por aí. –Falei séria. –Já conversamos sobre isso e sei que um dos motivos de desconfiar tanto dele não tem a ver só com o modo como ele tratou vocês quando chegaram ou seu jeito desde que salvaram Thalia da serpente. –Um leve tremor em seus olhos apenas confirmou o que nós dois já sabíamos. –E sabe que aceito isso tanto quanto você com relação a líder das caçadoras!


-Isso mostra que nos importamos um com o outro...


-Não! Isso demonstra desconfiança e insegurança e se formos fazer dar certo não podemos permitir que eles sejam motivo de discussão novamente, está me ouvindo senhor Horfman?


-Sim.


  Sua expressão estava completamente neutra e sua resposta não me convenceu totalmente, mas antes que eu ao menos pensasse em dizer qualquer outra coisa, um leve sorriso brotou de seus lábios. Então seus intensos olhos castanhos brilharam enquanto ele agarrava minha mão e depositava um beijo que fez todo o meu corpo se arrepiar.


-Que tal começarmos parando de falar dos outros e focando apenas em nós?


  Não pude deixar de sorrir enquanto Júlio me puxava para mais perto dele e roubava um beijo de mim, o que levou a outro e mais outro.


  Ainda nos encarávamos quando subi em cima dele e aprofundei nosso beijo até que a falta de ar fosse alarmante e ele passasse para o meu pescoço me deixando ainda mais ofegante...


  Passamos o resto da tarde longe e escondidos de todos, apenas aproveitando a incrível calmaria e conversando sobre coisas irrelevantes para uma batalha; as vezes perdíamos o foco da conversa quando um de nós roubava um beijo do outro, então iniciávamos outra, não nos importando com o fato de ter que memorizar ou relatar cada detalhe do que falávamos, pois ninguém mais além de nós mesmos se interessaria... aquele momento era só nosso e duraria o tempo que quiséssemos.


***


(P.O.V Tainara)


-Sabia que meus irmãos não vão gostar nenhum pouco de você ter burlado o acordo né?


-Eu ganhei o direito de ficar uma hora com você depois de ajuda-los ontem. –Connor se virou para mim ainda andando e sorriu.


-Mas pelos meus cálculos seu tempo acabou nessa manhã antes mesmo do dia começar de verdade.


-Vamos torcer para eles não saberem disso.


  Connor piscou pulando no pequeno barco e me oferecendo a mão logo em seguida; hesitei, repensando na ideia.


  Imediatamente a imagem de um rio com uma cadeira logo acima e correntes piscou em minha mente, assim como uma garota amordaçada sendo jogada com o assento para dentro da agua.


  Estiquei as mãos para a frente na tentativa de impedir que fizessem isso, abria a boca para gritar e pedir que parassem, porém nenhum som saia de mim e meus pés não se atreviam a se mover; o rio cobria metade da garota naquele momento e o desespero em seu olhar era o que mais me feria.


PAREM!


POR FAVOR! PAREM!


  A cadeira se afundou mais e senti meus olhos lacrimejarem enquanto a água entrava em meus pulmões e invadia completamente os meus pensamentos.


Tainara...


HAHAHAHA. Você está sozinha! Seus pais mentiram pra você, sua mãe te desertou e sua irmã te abandonou!


Tainara... me escute...


Eu escolhi a caça... Minha culpa... Devia ter contado... Sinto muito... Eu te amo.


  A queimação veio logo em seguida; sentia todo o meu corpo tremer e bolhas estourarem conforme o fogo se alastrava e tirava minha vida... pedaço a pedaço, cada mentira contada, agora faziam com que a rendição parecesse algo desejável...


Tainara... por favor...


  O rio tomou posse novamente assim que a cadeira emergiu completamente desaparecendo de vista; a agua apagando qualquer traço da minha existência...


-TAINARA!!!


  Fui puxada de volta a realidade por dois braços que seguravam com força no chão repleto de flores mortas; minha cabeça girava e comecei a piscar tentando recobrar o foco.


-O que...


  Connor me surpreendeu com um abraço tão apertado que perdi o folego por alguns segundos, então ele me encarou e tudo que vi em seus olhos foi preocupação e um enorme alivio.


-Por Hermes! Achei que não conseguiria te trazer de volta dessa vez!


Imediatamente compreendi o que o ocorrera e arregalei os olhos. –Eu fiz de novo não foi?


  Ele não precisava responder; o cenário da grama e flores mortas a minha volta, a sensação de ter levado um soco no estômago e o suor de minhas mãos já falavam por si só.


  Cobri o rosto completamente envergonhada e sem saber o que dizer; era a quarta vez que fazia isso na frente dele, e ultimamente esses ataques vinham se tornando cada vez mais frequentes e duradouros...


-Ei... –Connor segurou minhas mãos fazendo com que eu o encarasse. –Ainda estou aqui...


  Sabia que aquele era o pedido para que eu contasse como fora dessa vez, apesar dele saber de cada detalhe dos meus "ataques", sempre insistia para que eu os relatasse para ter certeza de que nada havia mudado... e foi o que fiz... achei que depois de quase dois anos de volta dos mortos eles iriam parar, mas era só eu me aproximar de um rio que tudo vinha à tona; porém, dessa vez, havia uma coisa a mais do que das últimas... o fogo também estava presente...


-Já passou, lembre-se de que são apenas lembranças, elas não podem te ferir de verdade... –Ele limpou com delicadeza uma lágrima que escorria do meu rosto. –Eu estou aqui... tudo vai ficar bem.


  Fechei os olhos absorvendo suas palavras e depois de alguns segundos não pude evitar um pequeno sorriso... estamos no meio de uma guerra, com semideuses desaparecendo a todo o momento e nossas chances apenas diminuindo e mesmo assim ele me diz que tudo vai ficar bem... e o pior de tudo é que eu acreditava em suas palavras.


Connor ainda me encava e o abracei beijando seu rosto logo em seguida.


-Obrigada.


  Ele piscou algumas vezes e sorriu abertamente. –Se eu soubesse que rolaria um beijo teria tomado banho.


Revirei os olhos tentando esconder o riso. –Você não tem jeito.


  Connor levantou em um salto me ajudando a ficar de pé, então ainda segurando minha mão, a beijou delicadamente.


-Se minha falta de jeito te faz sorrir é tudo o que importa.


  Senti meu rosto esquentar, mas tentei ignorar voltando ao foco. –Acho que não foi dessa vez não é...


  Connor olhou para o rio e o pequeno barquinho que nos esperava então deu de ombros. –Vamos ter outras chances. Ao menos dessa vez conseguimos chegar até a beira, o que já é um grande avanço. -Ele sorriu encorajador. –Isso não é algo fácil e não precisamos ter pressa.


  Concordei com a cabeça, mas continuei a encarar o rio que se estendia a poucos metros de mim; fora eu quem insistira para ele me ajudar a superar esse medo, pois é sempre bom estar preparada para tudo, mas nunca pensei que meu trauma fosse tão profundo...


-Que tal uma corrida de cavalos?


  Ele ainda segurava minha mão e seu sorriso travesso havia voltado; me aproximei um pouco mais fazendo com que ficássemos a apenas alguns centímetros de distância e pude ver a surpresa em seus olhos.


-A mesma aposta de sempre?


-Sabe como sou persistente.


  Ele piscou e pude ver o esforço que fazia para ficar normal com meu gesto tão incomum; sorri abertamente ficando ainda mais próxima, nossos lábios a centímetros de distância...


-Talvez dessa vez você não precise de tanto para conseguir o que quer...


  Fiz o possível para manter a respiração normal enquanto via o brilho em seus olhos conforme compreendia minhas palavras...


Não precisamos ter pressa!


  Infelizmente algo me dizia que nosso tempo estava acabando e precisava mostrar para ele que estou pronta para qualquer coisa... principalmente para algo tão "simples" como confiar meus sentimentos novamente a alguém... ao menos comparado ao que teríamos que enfrentar em breve eu poderia me dar pelo menos alguns minutos para me permitir sentir...


  Por isso, enquanto meus lábios iam de encontro aos seus, enquanto sentia sua boca se encaixar na minha, enquanto nossas respirações assumiam ritmos descontrolados e meu coração parecia querer pular para fora do peito, não me importei com mais nada além daquele momento.


Ele estava ali para mim e eu para ele, e nada mais importava!  


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Notas Finais:      


  Como podem ter visto esse capitulo foi mais tranquilo com algumas suspeitas, mas mais focado na rotina dos nossos três semideuses...

Então o que acharam?
O que acham que vai acontecer?
O que querem que aconteça?
Curiosos? 😏😏

Então não deixem de acompanhar, comentar e favoritar para incentivar ainda mais a escritora a continuar 😉❤😉

★♡★  

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