Seu Artur é homem simples:
barba com tinta de tempo.
Tem medo da morte
como criança.
Quando passa o cortejo
fecha os olhos bem forte
e manda subir o volume da música.
Seu Artur, noventa anos,
não bebe, não fuma
e quase nunca viaja
com medo de ser a última.
Não veste branco,
não se arruma,
com medo da morte
não brinca nem dorme.
Seu Artur é pássaro
graúdo e pesado
que custa migrar.
É tão apegado à vida
que nunca desiste
de relutar.
Seu Artur acumula
medalhas de
honra ao mérito
de com a morte lutar.
Quisera dela renunciar
seu gosto de remédio.
Quando seu Artur escuta
o sino da igreja tocar,
toca também sua alma
escutando a morte chegar.
Somente vigia
o bom seu Artur,
pois sabe, (ou) desconfia
que de supetão
sua adversária
uma peça vai lhe pregar.