sentado ao meu lado
a minha mão suja ainda
o meu amigo
espera eu limpar
e forjar o carinho.
sua mão transparente
ensina-me
o rumo.
no ar as minhas mãos são pássaros
descobrindo o louvor,
tremem ao máximo
na descoberta recente
de companhia
meu amigo assiste.
═ ═ ∞ ═ ═
O meu amigo
tão antigo
ficou esquecido no canto.
Eu preferia a música
sem graça nenhuma
do mundo. O pranto.
O tempo perdido,
mármore
no rosto evidenciava
que não valeu o recurso
de distrair-me ao fogo.
O sono não valeu,
outro medo, outro brinquedo.
E quieto no seu canto
o meu amigo, esquecido
esperou.
Não reclamava mensagem,
poesia, aceno,
apenas no seu canto
me esperava lúcido.
Enquanto eu imerso
na água do mundo
não via sua beleza
ou ouvia o seu canto.
E punha um escudo,
e à toa, uma espada torta,
golpeava sem êxito.
E meu amigo
no ar espreitava
meu destempero,
perplexo.
Eu caía no choro,
me rasgava, me cortava,
palavra,
poeira, sangue.
Descobria a cegueira
auto adquirida.
A automedicação
sem efeito,
as máquinas de colorir
sem funcionamento,
e meu amigo
silencioso
aguardava no canto.
Quando acordei
fazia mil anos,
percebi meu amigo
inerte no seu canto,
avancei para ele
resignado e frio,
arrisquei estender
as mãos
confessei-me
abri-me
e lentamente
e sua reação
(meu espanto)
foi que meu amigo
saiu do seu canto
e abraçou-me
e me mostrou
o campo.
═ ═ ∞ ═ ═
Oh meu amigo, tão santo
A minha roupa suja
A minha boca suja
O meu coração, um tanto.
Ainda bem, meu amigo,
Que abraçar-te
Tinge a vida
Toda de branco.
═ ═ ∞ ═ ═
Ao meu amigo
tenho uma canção
branca
Em som uníssono cantemos
à voz rouca e sufocada
espalhemos pela cidade
sem intenção de banalizá-la
Que às crianças ensinem
e aos velhos acordem
e os instrumentos publiquem
a canção dedicada
e o meu amigo,
no céu
se sinta
brindado.
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