No chão
com os corpos exaustos
dançamos a última dança no silêncio.
Tão descompassados
nos permitimos então
o estudo da outra pele (fria)
um corte profundo na solidão,
outro corte profundo no coração.
Não temos mais o mesmo
ritmo frenético de trinta anos
mas o sangue ainda viceja
e a mente nos desata.
Há um perfume que aguça os mil sentidos
e nos dá disposição para recompor a consciência,
os destinos oblíquos que nos separaram quilômetros
e perdoamos nosso mútuo atraso.
Serei teu parceiro de dores,
teu ombro na noite à disposição,
tua corda.
Comigo tu poderás orar em voz baixa,
poderás me fazer teu lobo de estimação
teu pasto e jardim,
tua nave, teu céu ao alcance,
teu último segredo.
E tu serás meu ponto final,
fim de febre, frescor matinal,
liberdade tardia,
apetite ao doce,
fome de vida;
Ensaiamos nossos últimos passos,
as luzes se apagam
mas ainda dançamos.