Capítulo 7




Entrei no shopping vestindo um vestido curto e solto preto, vestido esse que tinha um decote coração e um cinto na cor prata acima da cintura. Usava um par de saltos pretos com solas vermelhas e uma bolsa LV. Em meus cabelos tinha uma travessa de flores (da qual estava na moda, geralmente eu não gosto de usar o que "está na moda", mas tenho que admitir: aquilo era uma moda que me agradava muito.) e o mesmo estava solto para o lado esquerdo, ainda estava perdida. Afinal, havia muito tempo que não ia a um shopping, mas não demonstrei muito.


—Olívia, você já escolheu o que comprará primeiro? — Minha mãe me perguntou me olhando.


—Bem, para ser sincera, não. —falei olhando ao redor — isso aqui parece tão novo para mim mesmo não sendo. Muitas pessoas aglomeradas ainda me espantam, é estranho e um pouco desconfortável para quem praticamente foi criada em um Hospício. As vozes das pessoas juntas formam um som incoerente e vazio, como ondas do mar totalmente desgovernadas, porém de forma que cada onda tivesse um som, causa uma confusão em mim.


—Eu juro que queria poder ter ajudado mas as professoras da escola chamavam você de "a nova Matilde" por você ser... mais adiantada do que seus amigos naquela idade que queriam brincar enquanto você preferia ficar enfurnada em um livro, e o tempo foi passando você foi se tornando antissocial e na época que os garotos começaram a te paquerar você os ignorava.


—Visar um futuro melhor, visar minha vida agora me faz louca, mamãe? — perguntei me virando para ela — Não tem justificativa. Não tente se explicar, já fez, não tem como voltar atrás e me colocar em meu quarto outra vez. Vocês me colocaram em um hospício e ponto, sem discussões. — falei voltando a andar — Decidi o que vou comprar primeiro — falei sorrindo e olhando para uma loja enorme com todos os tipos de roupas.


— Boa escolha — Ela me olhou dando-me permissão como se eu precisasse de uma para entrar lá e comprar o que quisesse.


mas ignorei esse gesto e entrei na loja. Ela tinha piso branco e papéis de parede sofisticados, eram marrons com algumas flores que se encontravam em cor bege, lustres espalhados, araras, vitrines chamativas e até um pequeno bar que havia todo tipo de bebida que imaginasse. As vendedoras estavam bem vestidas e eram diferentes umas das outras, o que era uma coisa que não costumávamos ver em lojas, haviam negras, gordas, magras, brancas, enfim... todo o tipo de mulher; Elas estavam vestindo calças pretas, blusas marrons do mesmo tom do papel de parede, crachás que identificavam cada uma, na maioria os cabelos estavam presos em rabos de cavalos e franjas, outras tinha cabelos cacheados negros ou tingidos nas pontas.


Assim que demos os primeiros passos uma garota com mais ou menos 1,57 de altura, pele negra e de cabelos lisos e super sorridente veio a nossa frente e se mostrou ser super simpática.


— Bom dia, precisam de ajuda? — ela perguntou nos fitando e logo sorriu para minha mãe —Dona Elizabeth, creio que chegaram peças que irão lhe agradar bastante, estão localizadas na Ala B, vou pedir para que sua vendedora venha e te atenda, certo? —Ela perguntou e ao que minha mãe assentiu ela se virou e foi.


—Você compra aqui? — perguntei a olhando.


—Acredito que sim, essa é a melhor loja que se pode encontrar no shopping. Atendentes capacitadas, peças confortáveis, responsabilidade em suas roupas. É definitivamente a melhor — Ela me respondeu sorrindo e então a vendedora que pelo que vi de seu crachá se chamava Maya veio com outra vendedora só um pouco menor que ela, de pele branca e cabelos loiros.


—Clara —disse minha mãe sorrindo para ela —que bom ver você — Logo após falar ela se virou para mim — Olívia, vou deixar que você fique com Maya e se terminar primeiro que eu pode ir passear e comprar algumas coisas —Ela disse me entregando o cartão —se eu terminar primeiro vou ao seu encontro —Ela disse e eu assenti pegando o cartão. —Boas compras


— Obrigada, Mamãe — respondi feliz por estar com aquele cartão em mãos e realmente esperei que ele fosse ilimitado — pode ir — disse sorrindo.


—Fica bem — ela sussurrou me abraçando e eu correspondi respondendo o seu sussurro.


—Finge que se importa que eu finjo que acredito —dei um beijo em sua bochecha e me virei para Maya. —Vamos, então?


— Claro — Ela falou dando-me passagem e então me direcionou ao segundo andar que tinham roupas maravilhosas. — Olha, na minha opinião para o seu corpo cairia bem alguns croppeds, shorts e saias, mas você pode optar por vestidos também, mas é como eu disse, a moda atual são os croppeds, shorts e saias.


—Me mostre esses croppeds e logo após vamos aos shorts e saias —falei sorrindo e assim ela fez. Realmente, eram maravilhosos, haviam brancos cruzados, pretos com tiras, com alcinhas, sem alcinhas, costas nuas, decotes coração, enfim... Uma infinidade. Escolhi uma quantidade grande porém não exagerada e fomos colocando em uma Sacola com a logo da loja e então fomos aos shorts.


—Olha, nos shorts eu aconselho algo mais atual... como os de cintura alta, como esses —ela falou me mostrando alguns e eu adorei todos. — A senhora veste trinta e seis, não é?


— Sim, sim — respondi e fui pegando os shorts com minha numeração e colocando na sacola.


Logo após ela me levou a ala das saias e novamente me apaixonei, eram de cintura alta em cores brancas, pretas, rosas; Justas e rodadas; Longas e curtas; com fendas, e fechadas, acabei levando a maioria que provei e me direcionei para a parte dos quimonos. Em sua maioria eram grandes com franjas, transparentes e com detalhes lindos, levei vários por último fui à parte dos vestidos, acabei dando preferência aos curtos e com decotes traseiros e então Maya me direcionou ao caixa.


— Eu posso ir agora? —perguntei pegando as sacolas que eram muitas e as colocando em meus braços.


—Claro que sim — a moça do caixa respondeu e então me olhou sorrindo — Espero que tenha gostado, volte sempre.


— Sim, eu voltarei — respondi e sai da loja— àquela altura as vozes já não me incomodavam mais, havia me adaptado. Passei em várias lojas a procura de coisas que me agradassem.


A próxima loja que encheu meus olhos foi a de livros, eu adorava ler e passava a maioria de meu tempo lendo dentro do Hospital, mas eram livros chatos e agora eu estava diante de um espetáculo, vários livros e o melhor: poderia comprar absolutamente todos se quisesse.


Entrei na loja ainda cheia de sacolas e queria ter o poder de transportá-las para casa mentalmente, mas como não era possível tive que atura-las. Fui de prateleira em prateleira observando cada um e acabei levando os seguintes livros: "A Seleção" "A Elite" e "A Escolha" de Kiera cass, "A Rainha vermelha", "A culpa é das estrelas", "os Adoráveis" (que mais tarde veio a se tornar meu livro favorito), "no coração do mar", "A beleza está nos olhos de quem vê", "After" e toda a sua restante série; Levei também: "O pequeno príncipe", "Perdida", "ela disse, ele disse", "A cabana", "como falar com um viúvo" e por último: " as vantagens de ser invisível". Ao sair da livraria caminhei até a loja de sapatos porém não tinha como levar mais nada em minhas mãos por estarem cheias. Saí da mesma e encontrei minha mãe que parecia estar me procurando.


—Olívia, você está aí — Ela disse sorrindo e então tomou algumas sacolas.


—E não é que é? —Perguntei e caminhei com ela até a saída do shopping —Comprei um celular.


—Sério? Qual? — Ela perguntou me fitando e então estávamos fora do shopping. Eu realmente costumava pensar antes de responder as coisas, mesmo as mais banais. Era uma mania que eu não conseguia controlar.


—Um iphone 6 — respondi a olhando e peguei o celular de cor cinza espacial —Olha — mostrei para ela.


— E você sabe usar? —Ela perguntou pegando o celular de minha mão e eu então a respondi — É meio óbvio, não é? Antes de vocês me renegarem eu tinha um celular como esse, com o mesmo sistema operacional, acho que vou ser burra a ponto de esquecer isso?


—Não, você não seria burra, seria um ser humano qualquer com falhas e imperfeições e esquecer-se de algo não nos torna mais ou menos burros, só nos torna normais, não somos elefantes, nossos cérebros não tem a capacidade de deixar guardado de forma acessível todas as coisas que fizemos a quinhentos anos atrás —Ela me respondeu parecendo estar irritada e entregou o celular —E você pode começar a me respeitar porque eu não sou sua amiguinha.


—Você me colocou em um hospício! Eu não tenho que respeitar. Você não me respeitou e é claro que para ter respeito temos que dar respeito, a famosa lei do retorno, se você me respeita eu te respeito, se você me desrespeita eu te desrespeito. É assim que funciona! — respondi a ela.


—Não, eu não te coloquei em um hospital psiquiátrico, foi o seu pai quem decidiu isso, afinal ele decide tudo, ele é o chefe da família — Ele usou as palavras "chefe de família" com ironia e então voltou a falar — Eu não tive escolha a não ser aceitar que é a única coisa que eu sei fazer naquela casa. Ele tem amantes que frequentam nossa casa e eu tenho que ficar calada para "preservar o casamento", ele te colocou naquele hospital e se eu tentasse te tirar dali não conseguiria, pois ele disse que você era para estar ali e se ele diz ta dito — Ela continuou na ironia — Acredite, os seus problemas não são os piores do mundo. Eu não tenho direito de fazer nada ali, ele é possessivo, e idiota.


— Mamãe... —Eu comecei a falar e ela me interrompeu.


—Não fala nada. Não finge que se importa porque eu não vou fingir que acredito —Ela usou quase as mesmas palavras que eu usei com ele e admito: tinha sido infantil e totalmente insensível. —Vamos para casa.


Ela falou e o motorista veio até nós pegando nossas sacolas e colocando na mala do carro, em seguida abriu a porta para que ela pudesse entrar, mas eu evitei isso, não estava impossibilitada a ponto de não poder abrir uma porta do carro e entrar. Sentei-me na cadeira que ficava atrás do motorista ainda pensando em minhas atitudes com minha mãe e ela sentou atrás do banco do carona e após uns vinte minutos de viagem me questionando mentalmente retirei minha mão direita e levei lentamente até as mãos de minha mãe que estavam em seu colo a apertando como sinal de rendição, não queria magoa-la mais do que ela já estava. Senti que ela colocou a outra mão por cima da minha e notei algumas lágrimas caindo de seus olhos. Olhei para ela que também olhou para mim e falei "desculpa" Em voz baixa. Ela sorriu e fomos até a casa assim agarradas uma na outra. Quando chegamos ela foi ao meu quarto que já estava arrumado ao meu gosto e aproveitou o momento em que eu estava penteando o cabelo para tomar a escova de minha mão e passar em meu cabelo, ao ver que ele estava livre de nós ela sorriu e perguntou se eu não iria dormir, pois já estava "na hora", respondi que sim e ela se deitou ao meu lado, me espante mais não questionei. Ela me abraçou e assim dormimos.


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