A psiquiatra





Aquela garota me dava medo, eu lia e relia todos os dias a sua ficha, ela tinha vários transtornos psicológicos e conseguia passar por cima de todos. Algo inexplicável cientificamente, Sem fundamentos, provas concretas, nada. Ela conseguia driblar a todos.


— Olha, eu estou oficialmente abandonando o caso de Olívia Mayen, ela é muito mais do que podemos imaginar, ela possui armas e truques que não conheço — Disse andando de um lado para o outro — Ela é manipuladora, ela é encantadora, é mentirosa e arquitetônica. — Falei entregando a pasta dela — Não é para mim.


— Marina? — O diretor me olhou e com um sorriso duvidoso me perguntou — Você está dizendo que não tem capacidade de cuidar de uma garota de 16 anos porque ela é manipuladora, encantadora, mentirosa e arquitetônica? — Fiquei em silêncio e então eu olhei-o — Marina, eu te conheço desde quando eras criança e agora, gente a mim, está dizendo que desiste do caso mais fácil do universo? Essa garota não é louca, ela é uma garota rica que foi mandada para um hospital psiquiátrico após fazer o que? Quebrar a unha da prima? Se não, um motivo muito banal. Ela não é louca, ela age cautelosamente, conduta maravilhosa. Não trás consigo brigas ou coisas do gênero, ela aqui é só mais um rombo mensal na conta de seus pais.


— Meu deus, Pai. Entenda uma coisa, ela não é louca, ela é pior que isso, de todos os loucos deste hospital ela consegue ser a pior sem nem ao mesmo falar nada, olha os olhos dela. Aqueles olhos azuis magníficos escondem coisas terríveis! Foca neles!


-Marina, você vai levar esse caso até o final se quiser continuar aqui. — Ele disse me olhando e eu apenas revirei os olhos.


— Tudo bem, senhor Basten! — peguei a pasta da mesa e me retirei da sala sem me despedir.


***


—Mamãe! — Ouvi ao entrar em casa — Como foi o trabalho hoje? — Ella disse vindo correndo até mim e abraçando minhas pernas.


— Oi, meu amor — sorri carregando ela — Foi bom, como sempre, não é? — dei um beijo em sua bochecha— Cadê o seu pai? — perguntei sentindo um cheiro vindo da cozinha — Ele está cozinhando?


— Haram — Ela disse abraçando meu pescoço — ele disse que era para ser surpresa para você


— surpresa para mim? — perguntei rindo — que magníficoo! — falei me direcionando até a cozinha — Um passarinho azul me contou que alguém está cozinhando para mim! — Disse sorrindo.


— Passarinho? Que passarinho? Eu conheço esse passarinho?— Dylan me perguntou sorrindo e eu pude ouvir a risada baixa e engraçada de Ella. — e esse passarinho tem nome?


— Eu acho que sim, não é, Ella? — Perguntei a ela enquanto a coloquei no chão.


— Não sei — ela disse — Eu não vi nem ouvi passarinho algum.


— Então foi você? — Ele perguntou olhando para ela enquanto a mesma negava com a cabeça — Tem certeza? — Ele perguntou e ela voltou a negar, mas ao ver que havia cometido um erro assentiu também com a cabeça. Rimos e então eu perguntei o que teríamos para o jantar.


— hum.. Fiz macarrão a carbonária que é o favorito de vocês duas, com frango a xadrez e tem mousse de maracujá para a sobremesa. — ele disse me olhando para ver se eu aprovaria.


— Quem tem o melhor marido do mundo? — Perguntei o olhando e ele correspondeu sorrindo para mim.


— Vai arrumar seus brinquedos, Lau. — Ele falou ao tempo que ela obedeceu — O que aconteceu no trabalho? Você está meio... Quer dizer, muito estranha e geralmente não costuma chegar esse horário.


— Peguei minha bolsa que ainda estava em meu braço e abri na ficha de Olívia — Essa garota — mostrei a foto a ele.


— Ela parece inofensiva — Ele disse olhando a foto atentamente enquanto fechava as panelas e tirava o avental. — o que ela pode ter feito para te deixar assim.


— Isso! Ela não é inofensiva, ela e botina, e hipnótica, tem um encanto inicial que causa em todos o efeito "coitadinha", mas não é assim, as falas dela são extremamente calculistas, ela age como um criminoso muito perigoso, mas todos só conseguem ver a garota rica que não fez nada para que pudesse estar lá, o que pode ser verdade, já que ela não carrega absolutamente nada violento em seu histórico, entendeu? Eu procurei tudo, brigas, discussões, vandalismo, tudo, e não achei absolutamente nada. Ela é perfeita demais e isso é o que me dá mais medo.


— Mari, você tem que ter calma — Coisa que me faz querer lhe ver morto (a): diga para eu ficar calma.


— sem "calmas", okay? — o interrompi e logo pedi para que continuasse.


— okay. Tente ser esperta. Do mesmo modo como ela agir com você, aja com ela, se ela for irônica, seja também. Ela pode convencer a todos mas pelo menos você ela não convence e você vai ter que de uma forma ou outra mostrar essa "face" do mal para seu pai e o resto.


—Ah, em falar nele, ele disse "Marina, você vai levar esse caso até o final se quiser continuar aqui"


— Você pediu para entregar o caso? — ele perguntou tomando a pasta de minha mão.


— Sim, eu pedi e só não dei porque ele negou.


— Mari, você vai levar esse caso até o final, todo bem? Eu te ajudo com o que puder, e a gente consegue algo que possa a "incriminar" ou a "libertar" daquele lugar.


—Hey! Não fala "daquele lugar" parece que é inferior a alguma coisa — o adverti — e muito menos libertar, okay? Okay. Vamos comer, eu estou morrendo de fome.


— Tá certo — ele disse Ella entrou a cozinha sorrindo.


— Eu terminei de guardar tudinho — ela falou e logo deu continuidade — coloquei tudo em uma caixa e logo após coloquei em meu quarto.


— Assim? Rapidinho? Tá fortinha, hein? — Dylan perguntou carregando-a.


—Não, a moça de cabelo azul me ajudou! — no momento em que ela pronunciou as palavras eu olhei Dylan e me apoiei no Balcão.


— Que moça, Ella? — Ele perguntou tão apavorado quanto eu e então saí da cozinha andando pela casa na procura de alguém de cabelo azul, olhei em toda a parte da casa e por último fui ao quarto dela, a porta estava aberta então foi ali que eu entrei devagar, mas ali nada tinha, estava puro. Fechei a janela e logo voltei para a cozinha mas os encontrei subindo as escadas — Encontrou alguma coisa?


—Não — falei prendendo os cabelos e pegando Ella do colo dele — vem comigo — falei para ele e logo levei ela para seu quarto colocando-a sentada na cadeira que ficava em frente a sua penteadeira.


— O que foi mamãe? — Ela perguntou me olhando um sorriso bobo.


— Ella, quem era a moça de cabelo azul? De fato havia alguma moça de cabelo azul? — tentei usar uma linguagem mais infantil — Você viu alguém aqui?


— Eu vi, mamãe. Ela me ajudou a colocar, mas aí quando eu terminei ela sumiu.


— É a primeira vez que ela vem aqui? — perguntei passando a mão em seus cabelos.


— Não, ela vinha quando eu era bem pequena também, e brincava comigo.


— E ela ia pela porta ou janela? Ou simplesmente sumia?— Perguntei ajoelhando a sua frente


—ela sumia igual hoje, ela dá tchau e vai.


—E você... — comecei a falar mas fui interrompida por Dylan que se ajoelhou ao meu lado falando.


— Vá devagar, ela é uma criança, Marina. — respirei e notei que ele tinha razão. Bombardeá-la com preguntas não iria adiantar absolutamente de nada .


— vamos jantar — falei e ela sorriu alegre.


E assim fizemos, jantamos e eu logo conclui que era só uma amiga imaginária de Ella, eu estudei sobre isso na Faculdade, e vi que era normal crianças terem amigo imaginários, e que no final, isso podia ser bom, jaa que estimulava a criatividade da criança. Não, aquilo não era um terror, nem uma mulher que queria matar nossa filha, nem Ella era uma louca e estava começando a ver espíritos, era só um amigo imaginário.


6i3!j

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