A "Fuga"




— tudo certo —falei olhando o papel que deixava embaixo da cama que continha tudo o que eu precisava: Os horários de jantares e almoços dos psiquiatras e a sua turma, um mapa do lugar e u só precisaria agir.


Passei todo o dia verificando se as tarefas dos funcionários condiziam com o meu "mapa de 'quase' fuga" e quando chegou a hora Clarice estava ao meu lado com uma mochila, dei a ela toda a orientação que precisava e então disse para ela me encontra lá.


Ela teria que ir pela dispensa que ficava um pouco atrás da cozinha, assim que ela estivesse lá eu chegaria para ajuda-la e assim ir com ela, mas a mesma teria que ir primeiro para não chamar a atenção de nenhum dos funcionários e assim ela fez.


Uns trinta minutos depois dela ter ido eu entrei na dispensa, os funcionários estavam na cozinha, como eu esperava. Sorri para ela que me abraçou e então me perguntou esperançosa:


—Como vamos sair daqui, Olívia? — Ela sorria, mas ao olhar para os lados notou que não teria como sair dali.


— E aí que está, você não saí daqui, eu saio daqui — sorri para ela ao tempo no qual ela começa a gritar e partir para cima de mim, e Afinal era isso que eu queria desde o início. Clarice gritava coisas como "Você tem que me deixar sair daqui" "eu tenho que ver os pássaros" "os pássaros" "eu quero sair daqui" e esses gritos chamaram a atenção de todos os funcionários que correram para lá a tirando de cima de mim e optando por dar uma injeção que tranquilizaria Clarice por um bom tempo, e por sinal em mim também, e então foram as últimas coisas que vi ali, até acordar na sala do dono do hospital que era pai da minha psiquiatra, coincidência, né?


— Olívia, você está bem? — Ela perguntou para mim enquanto me olhava, assenti com a cabeça olhando para os machucados de meu corpo. Clarice tinha ido muito mais além do que eu imaginava. — Pode me dizer o que aconteceu ali?


—Senhor Basten, a Clarice, ela havia me dito um dia antes que queria ver os pássaros, ela até me deu um mapa de como faria isso, ela tinha os horários dos funcionários e disse que sairia pela cozinha — coloquei a mão na cabeça para tornar aquela situação um pouco mais dramática — e aí eu disse para ela para que não fosse. Que o melhor era ela estar aqui, pelos problemas dela, entende? — El assentiu com a cabeça e então pediu para que eu continuasse — e aí ela começou a me bater, dizendo que eu tinha que deixa-la sair daqui, mas eu sei que aqui é o lugar dela, ela precisa de tratamento, assim como eu precisei um dia. — abaixei os olhos juntando as minhas mãos e então voltei a o olhar — Então eu acordei aqui.


— Essa é a verdade? — Ele me perguntou com os olhos fixos nos meus, era o lugar pelo qual todos podiam ser enganados: os olhos. Alguns psiquiatras que já conheci acreditavam que se uma pessoa mente, ela não tem capacidade de olhar nos olhos das pessoas, eles mexiam demais os olhos como se pensassem em uma boa mentira para convencer o ouvinte e então eu aprendi. Fixei meus olhos nos dele também e disse:


— Eu jamais mentiria isso, ela é minha amiga, quero ver seu bem, não prejudica-la, quero que saia daqui bem, lúcida, que tenha um bom futuro e quem sabe talvez, uma família? Todos nos temos o direito de ser feliz independente de nosso passado — sorri sem mostrar os dentes e fui o mais meiga possível para um ser humano.


— Seria tão bom se nesse hospital vivessem pessoas como você, a convivência com os internados seria tão melhor — ele sorriu — Eu vou conversar com a Doutora Basten... — o interrompi.


— Vai pedir para que ela me deixe aqui? — perguntei a ele.


—Não, Olívia. Vou pedir justamente o contrário. Acho que tem capacidade suficiente para conviver em sociedade.


— Obrigada, tenho certeza que jamais se arrependerá. — abri um sorriso superficialmente encantador e então levantei — Posso ir?


—Sim, claro! Vá com deus e pode arrumar todas as suas coisas, as ruas te esperam.


—Ir a onde? — A doutora Basten perguntou entrando na sala e eu notei que teria muitos problemas com ela— Está liberando a minha paciente, Senhor Basten? — Ela perguntou e então me olhou.


— Marina, ela se revelou uma ótima pessoa e por isso constatei que ela pode voltar as ruas — Ele sorrio e eu correspondi seu sorriso.


—Acontece que, essa não é uma decisão que venha do senhor. O caso é meu e eu estou constatando que ela não pode colocar os pés para fora deste hospital.


— Marina... — Ele falou o nome dela a olhando profundamente como se quisesse mata-la e então suspirou.


— Eu mesma — ela sorriu e ajeitou seu Jaleco enquanto me olhava e olhava seu pai.


— Você de meu deu o caso dela ontem, eu não aceitei ontem, mas estou aceitando agora.


— E se eu não estiver disposta a dar-lhe o caso agora? — ela perguntou enquanto se sentou — mas eu não me prendo a pacientes, então... toda sua — ela sorriu, mudou de ideia espontaneamente, pensou em algo, ou não sei, isso foi rápido demais.


— Muito bom então — ele sorriu — Olívia, pode ir.


—Tchau, Olívia. Tenha cuidado — Ela sorriu para mim e então eu saí da sala, a sensação de liberdade mesmo não estando livre me invadiu de forma intensa.


Suspirei e logo me direcionei ao quarto de Clarice e logo bati na porta, se estivesse alguém lá responderia que eu poderia entrar, mas ninguém respondeu. Entrei no quarto e sorri olhando ela que ainda estava desmaiada, eles aplicaram o soro nela e ela, eu nunca havia feito aquilo, mas sempre havia uma primeira vez para tudo, olhei a banqueta onde continha todas as coisas que um médico precisava e pegue um par de luvas as calçando. Os quartos eram todos fechados sem lugar para passagem de ar, só um ar condicionado, tirei o mesmo da tomada, peguei a almofada que ela estava usando, assim que puxei a mesma ela me olhou e eu sorri para ela.


— Olívia, você está aqui — ela disse sorrindo e eu passei minha mão esquerda em seu rosto em forma de carinho, elevei a outra mão na qual estava o travesseiro e pressionei sobre seu rosto.


— Pronto, agora você verá os pássaros! — falei em tom sarcástico e então ao ver que ela parou de se debater com o travesseiro soltei o mesmo colocando de volta voltei ao armário e peguei um soro que eu não sabia como pronunciava seu nome e então injetei em sua veia. Suspirei tirando as luvas e em seguida as joguei no lixo. Saí do quarto, Mas algo ainda me intrigava, e eu teria que achar uma solução para aquilo. Corri para meu quarto e logo tirei aquelas vestes apagadas e horríveis, coloquei as roupas que estava usando no dia em que entrei e que ficara guardada para o dia de minha saída: um conjunto de saia e blusa rosa que deixavam minha barriga um pouco a amostra com um casaco que estava mais para enfeitar do que para esquentar, um par de saltos pretos e meus colares, anéis e pulseiras, solei meus cabelos que viviam presos em um coque e logo sorri. Eu era linda, Meus cabelos eram ruivos e naturalmente lisos, que alcançavam minha cintura, pele branca, olhos azuis, sardas e um corpo maravilhosamente lindo.


Fazia tanto tempo que eu não me via assim, tão deslumbrante, eu evitava me olhar no espelho para não ter que ver a Olívia "louca", mas não tem como negar, eu era linda de qualquer maneira. Saí do quarto e me direcionei a saída do Hospital com medo de que houvesse um engraçadinho ou engraçadinha que dissesse que eu não poderia ir, passei na recepção enquanto peguei meu atestado de liberação e então fui a porta, chamei um táxi e só estando dentro dele eu me senti livre mais uma vez.


— O senhor pode... por favor me levar a Downton — Ele me olhou pelo retrovisor e então sorriu para mim assentindo com a cabeça, suspirei, mas eu não tinha dinheiro, então apenas sorri para ele e comecei a falar — Tudo bem?


—Han? — ele perguntou e logo caiu em si —ah sim, tudo bem —ele prestou a atenção no transito —E com você?


—Tudo bem também — sorri para ele e então em um espaço de segundos e da forma mais discreta possível abaixei a blusa deixando meu decote a amostra —O senhor.. Sabe me dizer se a cidade fica muito distante daqui? — a essa altura minha voz estava melodiosa e baixa. — Faz muito tempo que não venho aqui — falei e cruzei as pernas.


—Fica a uma hora daqui, mas se eu for rápido... — ele tentou disfarçar e levar seus olhos a outro lugar que não fossem meus seios mais não conseguiu —acho que consigo chegar lá em uns cinquenta minutos —ele então se virou para frente — você foi visitar algum amigo no hospital?


—Sim, sim. Na verdade vim ver minha prima, ela está louca, coitada — falei abaixando os olhos e então sorri — ela andou roubando a nossa família e a única alternativa que tivemos foi coloca-la no hospital. Doeu muito, mas foi o caminho mais viável a ser seguido.


—Nossa, sinto muito por você — ele falou abaixando com a voz meio tensa e então voltou o rosto para frente.


—Dó tanto, sabe? —perguntei encostando a cabeça no vidro do carro.


—Eu não sabia que era tão complicado para você tocar nesse assunto. Mas tenha calma, tudo vai se resolver. — Ele falou e eu fiquei em silêncio até chegarmos até a cidade. —Pronto, chegamos — ele falou e sorriu para mim.


—Tá, quanto ficou a corrida? —perguntei mexendo na bolsa e fingindo não achar nada.


—cinquenta — ele falou me olhando e então eu o olhei.


— Ela me roubou — disse derramando algumas lágrimas — eu acho que foi quando eu fui ao banheiro, nem mesmo meu celular está aqui —falei e então fiz menção de tirar minhas joias —será que servem? — perguntei o olhando e tirei o par de brincos.


—Não precisa —ele sorriu — Não serve, são seus, tem que continuar com você. Uma hora você me dá, enfim... Melhore tá bom? —ele falou e eu sorri para ele.


—Obrigada, obrigada mesmo. Eu pensei que você talvez fosse um daqueles grosseiros e sei lá, pudesse me bater — disse dando de ombros.


— Não, não — ele falou —pode ir, vai com deus, ele vai te abençoar.


—Que assim seja —falei sorrindo e saindo do carro —obrigada mesmo —falei e então me virei andando para pegar um táxi local e logo ouvi o barulho do carro indo embora —e que todos sejam idiotas assim —falei revirando os olhos e ajeitando minha roupa e então peguei um táxi local para que ele me levasse a mansão dos mayen's


É bem comum sabermos que em cidade pequena, os títulos, famílias e qualquer coisa que dê a impressão de ter dinheiro são supervalorizados, uma prova disse era Dawnton, pequena e muito interesseira, aquela família que conseguisse entrar ter a admiração do povo era idolatrada, endeusada. E o bom de cidade pequena é que não tem muitas outras famílias para se competir com as favoritas do povo.


— Claro que posso — Ele sorriu, mas eu não sorri, sinceramente fazer boa ação ou se fazer de boa moça simpática, que eu estava longe de ser, ele não interessava, não tinha o porquê de ficar de "mimimi" — coisa qual seu nome?


— Olivia, Por quê? — perguntei olhando a paisagem e tudo que eu não via a tempos.


— Olívia? Olívia, eu conheço todos os Mayne's e você me é tão estranha — Ele falou e eu apenas fiquei em silêncio voltando a admirar a paisagem.


Assim que o mesmo parou em frente a minha casa sorri e mandei que esperasse para que alguém pagasse para ele já que não tinha dinheiro algum e assim fiz.


— Caleb... — sorri ficando em frente a um dos seguranças da casa que me olhou assustado, ele fez menção de falar mais eu levei minha mão a sua boca como se estivesse pedindo para que o mesmo calasse a boca e então sorri — Você vai pagar o táxi. E ai de você se estragar a surpresa e contar que eu estou aqui ok? Creio que sim — respondi a mim mesma e logo voltei a andar entrando na casa pela porta dos fundos.


Fiz as minhas próprias deduções de onde estariam todos e logo concluí que: Minha mãe estava em uma de suas palestras para usuários de drogas, órfãos, mendigos e coisas assim. Meu pai estaria no trabalho; Andrei estaria jogando golf e Lauren — a mulher de Andrei — Estaria fazendo o que sabe mais sabe fazer: Traindo meu irmão na frente daquele otário sem que ele perceba, ter gente burra na família é a pior coisa do universo.


A família mais adorada da cidade tinha: Uma dondoca que tentava se encaixar na sociedade pobre, um cara que trabalha vinte quatro horas por dia, um mauricinho otário, uma agregada vadia e uma assassina. Acho que as pessoas deveriam rever seus conceitos sobre quem eles "veneravam". Mas eu ia acabar com isso, eles não me enfiaram em um Hospício? Vou enfiar cada um em seus respectivos lugares e acabar com aquela boa fama.


M6

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